José Pedro Soares, coordenador da URAP, César Roussado, do Conselho Directivo, e Matilde Lima, do Conselho Nacional, compunham a delegação da União de Resistentes Antifascistas Portugueses ao XIX Congresso da Federação Internacional da Resistência (FIR), que decorreu em Barcelona, na Casa Sindical das Comissiones Obreras da Catalunha, nos dias 27 e 28 de Outubro.
Na intervenção que proferiu no congresso, José Pedro Soares afirmou que “o mundo está de novo mais perigoso e inseguro” devido às “políticas enganosas e antipopulares em muitos dos nossos países”, e ao facto do “imperialismo continuar a promover e alimentar conflitos e guerras”.
Depois de caracterizar a degradação da situação mundial devido às “crises do capitalismo que constantemente se sucedem e à política belicista e de confronto, movida fundamentalmente pelos Estados Unidos da América e seus aliados com o permanente objectivo de domínio do mundo”, o coordenador da URAP disse que “a situação internacional exige das nossas associações antifascistas uma intervenção permanente em defesa da memória histórica, da resistência e da luta antifascista que os nossos povos dolorosamente conheceram, defrontando-se com o fascismo, o nazismo e as guerras devastadoras”.
Após elencar os grandes problemas que as sociedades atravessam, tais como a injustiça, desigualdade, incerteza, retrocesso nas condições de vida, dificuldade na habitação, na saúde e ensino, a orador sublinhou “que movimentos fascistas e fascizantes, xenófobos, racistas, anti-imigrantes, se aproveitam (desta situação) para manipular e instrumentalizar segmentos da população menos informados e vítimas das políticas reaccionárias e neoliberais”.
Referindo-se à situação internacional, declarou que “o mundo está de novo mais perigoso e inseguro” e que “o imperialismo continua a promover e alimentar conflitos e guerras”, mencionando a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, e o conflito do Médio Oriente.
“Que parem de imediato os bombardeamentos a Gaza”, reclamou, acrescentando que os “democratas e antifascistas devem exigir que terminem as guerras. Que vença a paz, a justiça social, a democracia e o progresso social e económico e que se fortifiquem as relações de cooperação e amizade entre os povos e nações”.
A intervenção da URAP deu conhecimento, igualmente, da actividade da URAP em Portugal. Descreveu a estrutura da organização e o trabalho desenvolvido e, destacou, ao mesmo tempo, a comemoração, em 2024, do 50º aniversário do 25 de Abril, convidando, desde já, Ulrich Schneider, secretário-geral, e Vilmos Hanti, presidente da FIR, a estarem presentes na conferência internacional que a URAP organiza a 26 de Abril de 2024, bem como todas as organizações de resistentes ali presentes que o desejarem.
O XIX Congresso da FIR iniciou-se com a cerimónia de atribuição do Prémio Michel Vanderborght, na Câmara Municipal de Barcelona, onde foram também homenageados antifascistas que morreram. Foram discutidas e aprovadas quatro declarações, propostas pela Comissão Executiva: Declaração sobre a Paz e a Guerra; Fim ao recrudescimento da extrema-direita e do populismo e ao neofascismo; Declaração pela preservação da Memória; e Apelo da FIR às Eleições para o Parlamento Europeu.
Durante o debate, a URAP interveio sobre a Palestina e Israel, condenando os crimes e a barbárie contra as populações civis indefesas, e reafirmou a posição da URAP relativamente à guerra na Ucrânia. As propostas da URAP foram aceites e integradas no documento final.
-----------------------Na declaração Fim ao recrudescimento da extrema-direita e do populismo e ao neofascismo, que destacamos, os participantes no congresso da FIR, embora vejam como positivo “um amplo contramovimento democrático, incluindo todas as gerações e diferentes grupos sociais, activo em vários países”, manifestam “grande preocupação com a crescente influência política das forças de extrema-direita, desde neofascistas violentos até grupos populistas de direita, em diferentes países europeus, a nível nacional e regional”, nomeadamente com o “governo neofascista em Itália”, os exemplos de “grupos de extrema-direita que influenciam a política governamental na Europa” e as “condições de vida dos refugiados e migrantes”.
O aproveitamento das dificuldades e problemas existentes na sociedade por essas forças e a “prática cada vez mais violenta, como ataques incendiários a ´estrangeiros´, caça a refugiados e outros excessos”, são salientados no documento.
Para a FIR, este problema “só pode ser resolvido pela solidariedade prática de todos os países europeus”, condenando o “autoritarismo, intolerância e chauvinismo nacionalista”. “A extrema-direita posiciona-se contra os trabalhadores e os necessitados socialmente”, garante.
“Em vários países europeus temos de enfrentar a propaganda aberta de antigos movimentos e colaboradores fascistas (como Bandera na Ucrânia, Horthy e as SS alemãs na Hungria, Lukow na Bulgária, o fascismo de Mussolini em Itália, os Tchekniks na Sérvia e os Ustasha na Croácia, os bálticos-SS como ´combatentes pela liberdade´ na Letónia e na Estónia, reabilitação de Franco em Espanha, e homenagem a Salazar em Portugal). Isto está em contradição com numerosas declarações internacionais, como a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a preservação da memória (17 de Novembro de 2014) e a Resolução do Parlamento Europeu sobre o aumento da violência neofascista na Europa, adoptada em 25 de Outubro de 2018”, lê-se no documento.
“A FIR e as suas federações membro estão unidas contra o racismo, o anti-semitismo, o anti ciganismo, a xenofobia, o neofascismo, o nacionalismo e o populismo de extrema-direita”, afirma o documento, acrescentando a concluir que “apoiamos todos os grupos e redes que se opõem a tais desenvolvimentos”.
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A 29 de Outubro, promovida pela Associação da Catalunha, realizou-se uma homenagem às Brigadas Internacionais que lutaram contra o fascismo durante a Guerra Civil de Espanha. Esta homenagem decorreu junto ao Memorial onde estão gravados os nomes de mais de 2 000 combatentes fuzilados pelas tropas franquistas.
Nesse mesmo dia, realizou-se um comício, acompanhado por um momento cultural, numa praça de Barcelona, com centenas de pessoas, junto ao monumento que simboliza a luta e a generosidade das Brigadas Internacionais.
A Federação Internacional de Resistentes, que a URAP integra, foi fundada em Viena de Áustria em 1951, após a II Guerra Mundial na Europa, por combatentes da resistência, guerrilheiros, sobreviventes de deportados, combatentes nas fileiras da coligação anti hitleriana e membros das suas famílias e inclui, em muitos países, antifascistas de muitas gerações. A FIR é composta por 60 organizações de 25 países da Europa, América Latina e Israel.