Juntamente com esta projecção, esteve também patente uma
exposição neste salão nobre que evocava exactamente o percurso de
vida de António Dias Lourenço, dando realce aos momentos mais
marcantes da sua vida dedicada inteiramente à luta pela melhoria das
condições de vida do povo e do país, quer durante a resistência à
ditadura fascista, quer após a Revolução de 25 de Abril de 1974.
No documentário, pela voz do próprio António Dias Lourenço, é narrada a sua audaciosa e heróica fuga do Segredo, no dia 18 de Dezembro de 1954, para além de alguns aspectos relativos à vida carcerária e às constantes privações e pressões impostas pelos guardas e seus chefes aos presos políticos. Em seguida, foi lida uma carta de Lígia Dias Lourenço, sua filha, que não podendo estar presente na sessão por se encontrar no estrangeiro, felicitou vivamente a iniciativa e recordou entusiasticamente a notícia da fuga bem sucedida do seu pai há 56 anos atrás.
Na sua intervenção
o Presidente da Câmara Municipal de Peniche, António José Correia,
recordou a forma única como Dias Lourenço narrava a memória da
resistência antifascista e patenteava a sua vigorosa confiança nos
ideais que desde sempre abraçou devotados à luta pela erradicação
da exploração do homem pelo homem e que o documentário
testemunhara. Lembrou ainda a forma sempre viva e activa com que
várias vezes se cruzou com Dias Lourenço nas suas visitas guiadas
ao Forte de Peniche, terminando por apontar alguns dos
desenvolvimentos do protocolo assinado entre a URAP e a Câmara
Municipal de Peniche em 2007, e que permitiu a elaboração de uma
Exposição relativa aos 75 anos da abertura da Fortaleza de Peniche
como Prisão Política em 1933, ainda patente na Fortaleza e a
Exposição Um
Cravo vivo de Sonho!
cedida pela URAP e que esteve patente em várias escolas do concelho.
Encerrando a sessão
o coordenador do Conselho Directivo da URAP, Aurélio Santos, lembrou
a grande coragem e audácia que sempre acompanharam Dias Lourenço na
sua vida de luta, acentuando que esta fuga fora realizada para o
retorno ao seu posto de combate à ditadura fascista, fossem quais
fossem as condições. Ao contrário de outras fugas que foram
meticulosamente preparadas a partir do exterior das prisões
políticas, neste caso coube ao próprio Dias Lourenço todos os
cuidados e preparações para o sucesso da iniciativa, com todo o
risco a ser assumido de forma individual. Segundo o coordenador do
Conselho Directivo da URAP, Dias Lourenço é um dos que nos
acompanham mesmo para além da sua morte. Porque continua vivo
enquanto houver entre nós a memória activa do que foi em vida a sua
actividade e a sua passagem pelos cárceres fascistas durante 17
anos, tal como o enorme contributo dado na construção do Portugal
de Abril. Na realidade, a luta antifascista também se fez no
interior das prisões políticas, por melhores condições no seu
interior e o caso de Peniche é sintomático, por ser para o regime
fascista a sua prisão de alta segurança. Para Aurélio Santos, a
melhor homenagem a prestar a António Dias Lourenço e a outros
resistentes antifascistas é a de continuar o combate pela defesa da
democracia e das conquistas da Revolução de Abril, actualmente
seriamente ameaçadas por políticas contrárias ao caminho traçado
pelo 25 de Abril.
A sessão encerrou com um minuto de silêncio.
Posteriormente, todos os presentes foram convidados a visitar o segredo da célula disciplinar instalado na parte do Forte conhecido pelo redondo, de onde 56 anos antes António Dias Lourenço se evadira com sucesso, para além das celas de alta segurança no antigo pavilhão C da prisão, onde se mantém patente a Exposição evocativa dos 75 anos do início da utilização da Fortaleza como prisão política pela ditadura fascista.
Desta forma, no ano do seu falecimento, a memória de António Dias Lourenço foi recordada da forma como ele próprio costumava fazer, com alegria, criatividade e vigor, características que acompanharão sempre todos aqueles que se propõem continuar o seu combate e dar sentido à expressão de que a luta continua!