A URAP acolheu em Portugal uma reunião do Comité Executivo (CE) da Federação Internacional de Resistentes (FIR) que se realizou no dia 26 de Abril. O programa desenrolou-se entre os dias 24 e 26 desse mesmo mês. Tal organização deveu-se ao facto de David Pereira, membro do Conselho Directivo da URAP, pertencer àquele organismo directivo da FIR e também ao carácter rotativo da reunião pelos países representados no órgão directivo de onde são originárias as organizações de resistência e de veteranos da luta contra o nazismo e o fascismo de toda a Europa e Israel.
A coordenadora do Conselho Directivo da URAP, Marília Villaverde Cabral, acompanhou também todas as iniciativas levadas a cabo no decurso do programa referido. Estiveram presentes em Portugal: o seu secretário-geral, Ulrich Schneider, membro do VVN-BdA da Alemanha; o seu vice-presidente, Christos Tsintzilonis, membro do PEAEA da Grécia; o seu vice-presidente, Vilmos Hanti, membro do MEASZ da Hungria; o seu tesoureiro, Heinz Siefritz, membro do VVN-BdA; o seu membro, Efim Korolev, membro do PKBBBC da Rússia. Estes membros do Comité Executivo da FIR foram acompanhados em Portugal por dois tradutores de língua grega e húngara e uma representante do VVN-BdA (Alemanha) e outra também do PEAEA (Grécia).Os participantes ficaram alojados em Lisboa e foram recebidos no dia 24 de Abril num jantar em que estiveram presentes Marília Villaverde Cabral, David Pereira e Encarnação Raminho, também dirigente da URAP.
No dia 25 de Abril, pela manhã, os participantes foram acompanhados pelos mesmos membros do Conselho Directivo da URAP e por Manuel Pedro, resistente antifascista que totalizou onze anos de prisão nos cárceres ignóbeis do fascismo em Portugal. Seguiram até Peniche onde foram recebidos pelo Presidente da Câmara Municipal, António José Correia, na Fortaleza local, antiga prisão política da ditadura fascista. Acompanhado pelo presidente da Assembleia Municipal, Rogério Cação, o edil de Peniche saudou os presentes e na sua companhia inaugurou a exposição Peniche vive convosco as alegres horas da Liberdade, patente em formato digital no Salão Nobre da Fortaleza. Ali foram projectadas imagens dos dias 25, 26 e 27 de Abril de 1974, data da libertação dos presos políticos em Peniche e do dia 1 de Maio de 1974, dia de manifestação massiva do povo local. O presidente da Câmara recordou que esta iniciativa se inseria no programa municipal de Abril enquanto mês da liberdade e recordou o protocolo mantido com a URAP desde 2007. Estas palavras foram retribuídas de forma impressionada pelo secretário-geral da FIR, Ulrich Schneider, que agradeceu o convite para a inauguração da exposição e expressou o reconhecimento em como a autarquia de Peniche e a URAP trabalhavam de forma a integrar a Fortaleza local no contexto da preservação da memória da resistência antifascista em Portugal. Observou os paralelismos existentes entre o sistema repressivo que ali era evocado e a forma ignóbil que revestiu o nazismo na Europa. Referiu ainda que no património de todos os veteranos da luta contra o nazi-fascismo na Europa estava seguramente a luta heróica do povo português pela libertação do fascismo e que sempre constituíra um forte estímulo a todas as lutas em que a FIR sempre esteve associada.
Em seguida, todos os convidados da delegação da FIR percorreram os principais pontos da antiga prisão política situada na Fortaleza de Peniche: o percurso iniciou-se com a visita ao Segredo, o antigo Baluarte Redondo originário do século XVI e utilizado pelas forças carcerárias do fascismo para ali isolar os presos políticos submetidos aos castigos que procuravam desmobilizar e quebrar os ideais de liberdade, democracia e justiça social que os norteavam. Ali esteve detido António Dias Lourenço que heróica e corajosamente dali se evadiu na noite de 17 para 18 de Dezembro de 1954, o que foi narrado aos membros da FIR e que os impressionou pela verificação no local dos cerca de vinte metros que separam o cimo do mesmo das águas que circundam a Fortaleza.
Depois, sempre guiados
por Manuel Pedro, os presentes seguiram para o núcleo da resistência
antifascista, composto pelas antigas celas do Pavilhão C da prisão,
onde conheceram o percurso da fuga de 3 de Janeiro de 1960 e a cela
onde esteve preso Álvaro Cunhal. Apreciaram alguns dos seus Desenhos
da Prisão
ali expostos, assim como se detiveram nos painéis que a URAP
elaborou em conjunto com a autarquia de Peniche para a exposição
inaugurada em 2009 e documentando a passagem dos 75 anos do início
da Prisão Política da PVDE em Peniche, segundo os registo oficiais
dos presos políticos. Foram, por fim, convidados a presenciar as
intervenções dos grupos políticos representados na Assembleia
Municipal de Peniche, após o que o secretário-geral da FIR, Ulrich
Schneider, entregou ao presidente António José Correia dois
exemplares de um mapa dos mais de 2000 campos de detenção,
concentração e extermínio do nazismo na Europa, resultante de um
projecto de edição com o Instituto de Veteranos da Bélgica, no
sentido de ficarem disponíveis no Museu Municipal e numa escola do
concelho.
Nesse momento, o membro do CE da FIR, Efim Korolev, em
representação do marechal Alexander Efimov - membro do Comité
Honorário da FIR - atribuiu uma medalha a Manuel Pedro, distinção
relativa aos feitos de resistência ao nazi-fascismo em toda a
Europa, quer aos veteranos desse combate, quer a todos os que
contribuíram ou contribuem para a preservação dessa luta já após
o fim dos regimes fascistas na Europa.
Pela tarde, e após o almoço, os convidados da FIR juntaram-se à centena de sócios, amigos e dirigentes da URAP e em conjunto com o pano central e panos dos núcleos e delegações desceram a Avenida da Liberdade em Lisboa na tradicional comemoração da Revolução de Abril. Muito saudada pelos participantes, a delegação da URAP teve a confirmação da grande impressão que causou o entusiasmo e alegria reunido em torno desta comemoração exemplar, o que foi referido pelos membros alemães, gregos, húngaros e russos presentes. Após o fim do desfile e das intervenções no Rossio, seguiu-se um programa livre em que alguns dos convidados estrangeiros se deslocaram às instalações da sede nacional da URAP em Lisboa. Aí foram trocadas algumas experiências, e aspectos similares da intervenção da URAP e das organizações representadas, tal como foi feita referência às homenagens levadas a efeito todos os anos pela URAP, com especial destaque para a homenagem junto ao mausoléu dos tarrafalistas portugueses assassinados em Cabo Verde entre 1936 e 1954. O encerramento do dia da liberdade foi realizado num jantar de confraternização e convívio em Lisboa.
No
dia 26 de Abril, os membros do CE da FIR seguiram para a Quinta de
São Paulo, em Setúbal, espaço da Associação de Municípios da
Região de Setúbal cedido para a reunião do órgão directivo da
FIR e ali iniciaram os seus trabalhos. Foram acompanhados pelo membro
português eleito no mesmo, David Pereira, tal como pela coordenadora
do Conselho Directivo da URAP, Marília Villaverde Cabral e por
Aurélio Santos, antigo coordenador e membro do Conselho Nacional da
URAP. Pela manhã os trabalhos da reunião do Comité Executivo da
FIR ocuparam-se das questões relativas ao acto comemorativo dos 60
anos da fundação da FIR (1951-2011), a ter lugar em Viena por
ocasião do XVI Congresso Extraordinário da estrutura (1 a 3 de
Julho de 2011), assim como de aspectos de preparação do período
eleitoral daquela reunião magna, no sentido de eleger um novo
presidente do CE da FIR após o falecimento de Michel Vanderborght em
Setembro de 2010. Nesse período matinal, Efim Korolev voltou a
agraciar dois dirigentes da URAP pela valia do seu contributo para a
luta antifascista no país e em representação do presidente do
PKBBBC da Rússia, o marechal Alexander Efimov: Aurélio Santos e
Marília Villaverde Cabral.
O almoço foi
realizado no centro da cidade, tendo ali marcado presença a
presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira,
que ofereceu medalhas comemorativas dos 150 anos da elevação de
Setúbal a cidade a todos os membros do CE da FIR e convidou-os em
seguida a deslocaram-se ao passeio central da Avenida Luísa Todi,
para ali ser referida a preservação da memória da cidade como seio
de resistentes antifascistas e pólo de defesa dos direitos dos
trabalhadores e das populações, onde Setúbal reúne dos mais
relevantes exemplos na história do movimento operário, sindical e
progressista em Portugal. A presidente recebeu também de Ulrich
Schneider igualmente dois exemplares do mapa dos campos de
concentração nazis espalhados pela Europa entre 1933 e 1945.
Depois, Maria das Dores Meira explicou a concepção teórica do
Monumento
à Resistência Antifascista, à Liberdade e à Democracia
ali situado e inaugurado em 25 de Abril de 2005: Aos
resistentes que com a sua acção lutaram e lutam contra o fascismo,
pela Liberdade, pela Democracia e pela Paz: 25 de Abril sempre!
Constituído por tetrapodes unidos numa junção central que
simbolizam os 48 anos de resistência ao fascismo em Portugal, imagem
similar à resistência e tenacidade contra todas as adversidades nos
pontões costeiros face às investidas marítimas em que estas peças
são utilizadas. Entre outras entidades, a Delegação de Setúbal da
URAP dinamizou fortemente a iniciativa para a qual a edilidade
setubalense deu um contributo inestimável. Mais uma vez os delegados
estrangeiros ficaram vivamente impressionados pela forma viva e
presente como a resistência antifascista portuguesa continua nos
dias actuais em Portugal.
De
regresso à Quinta de São Paulo em Setúbal, os membros do CE da FIR
prosseguiram os seus trabalhos, agora relativos à preparação do
Encontro Internacional da Juventude no antigo Campo de Concentração
de Auschwitz-Birkenau, na Polónia, em Maio de 2012 e da Exposição
evocativa da História
da Resistência Europeia,
projectos em comum com o Instituto de Veteranos/ Instituto Nacional
dos Inválidos de Guerra, Antigos Combatentes e Vítimas de Guerra do
Estado belga. Também foram dadas informações sobre as actividades
dos membros do CE da FIR e da actividade das organizações na
Alemanha (VVN-BdA), Grécia (PEAEA), Hungria (MEASZ), Rússia
(PKBBBC) e Portugal (URAP). Com o encerramento dos trabalhos, os
dirigentes da FIR receberam da Associação de Municípios da Região
de Setúbal diversos elementos culturais e uma obra relativa às
Formas
de Abril. Monumentos Comemorativos do Distrito de Setúbal.
O secretário-geral
Ulrich Schneider recebeu também uma obra congénere editada em 1999,
Formas
de Liberdade,
que comemorava os 25 anos do 25 de Abril através de um roteiro dos
monumentos comemorativos da Revolução em todo o território
nacional. Foi nessa sequência que os presentes se deslocaram à
Praça de Portugal, em Setúbal, onde foram guiados pelo fotógrafo
Pedro Soares, que trabalhou detalhadamente a fotografia dessas obras
evocativas de Abril e das suas conquistas.
Os membros da FIR
estiveram assim junto ao Monumento
ao 25 de Abril e às Nacionalizações,
inaugurado em 1 de Outubro de 1985, numa promoção levada a cabo
pelos trabalhadores da antiga Setenave
- à época uma das principais empresas da região e do País - e
por altura das comemorações do 12.º aniversário da CGTP-IN. Foi
relatado por Pedro Soares o significado do cubo em azul do monumento
- forma mais perfeita das realizações humanas - e do vermelho
que envolve a outra estrutura, homenageando o 25 de Abril e as
nacionalizações que se processaram enquanto símbolos da colocação
da economia ao serviço dos trabalhadores e do povo português, suas
necessidades e aspirações através de uma justa retribuição e
valorização do trabalho.
O encerramento do
programa ocorreu no concelho da Moita, onde os membros do CE da FIR
foram recebidos nos Paços do Concelho pelo vice-presidente da
edilidade, Rui Garcia. Este autarca sublinhou o prazer e acolhimento
que a Moita nutria por estes convidados, enquanto terra de trabalho,
de trabalhadores e de populações com genuínas convicções
democráticas. O secretário-geral da FIR entregou ao vice-presidente
da Câmara Municipal da Moita outros dois exemplares do mapa relativo
ao projecto entre a FIR e o Instituto de Veteranos sobre os campos de
concentração na Europa. O jantar decorreu após essa troca de
impressões na Câmara Municipal e tendo depois os convidados
estrangeiros regressado às unidades hoteleiras onde estiveram
instalados em Lisboa. Nos dias seguintes os presentes regressaram aos
seus países.
Para a URAP, o
balanço a fazer sobre o acolhimento desta delegação da FIR em
Portugal é extremamente positivo. Não só pela honra e transmissão
do trabalho e inserção na sociedade portuguesa, mas também pela
viva impressão causada em todos os delegados estrangeiros. Num
período de dificuldades vividas em toda a Europa, em que se adensam
os cenários mais negros junto dos povos e que as perspectivas de
retrocesso social são reais e vão sendo apregoadas de forma
hipócrita como sendo necessárias para que subsista o bem-estar
colectivo, a experiência vivida durante três dias em Portugal foi
seguramente um estímulo para a actividade da FIR, bem como para as
organizações alemã, grega, húngara e russa aqui representadas.
Para a URAP esta realização inseriu-se e só reforçou os
objectivos de: prosseguir os compromissos assumidos de tudo fazer
para contribuir para a defesa do regime democrático; preservar a
verdade histórica sobre o negro período da dominação do fascismo
em Portugal e de todos quantos a ele se opuseram e resistiram para
ser possível a Revolução de Abril; denunciar os ataques à
democracia e as tentativas de relativizar, branquear ou deturpar a
história recente portuguesa, assim como a implementação do
fascismo, seus apoios, suportes e consequências em Portugal.