A XIX Visita Guiada do núcleo da URAP de Sta Iria da Azóia teve como destino o Barreiro, com especial relevo para o Espaço Memória, aberto ao público em 2014, que expõe de forma interactiva o passado da cidade no que respeita aos vários sectores produtivos e dos que com o seu trabalho, actividade social e política contribuíram para a realidade actual.
Os 22 sócios e amigos da URAP viram, dia 5 de Novembro, para além da exposição permanente, a mostra "O Regresso das Bandeiras", que vai estar patente até ao fim do ano e se insere no âmbito das "Comemorações dos 80 anos da Jornada de Agitação e Luta de Fevereiro de 1935, no Barreiro", onde foram recebidos pelo presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Carlos Humberto Carvalho.
A mostra resulta de uma parceria entre o Município do Barreiro e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, onde se encontram depositadas as bandeiras, assinalando um momento emblemático da História do Barreiro do século XX, da resistência ao fascismo e da luta pela liberdade e pela paz.
Operários da CUF e ferroviários, membros da Comissão Intersindical (CIS), afecta ao PCP, cortaram a electricidade e hastearam, em 28 de Fevereiro de 1935, bandeiras vermelhas por todo o Barreiro, enquanto distribuíam material de propaganda.
Na chaminé das oficinas dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, é hasteada uma bandeira vermelha de grandes dimensões, pelas mãos de Acácio José da Costa, responsável pelo Comité Local, preso depois pela PVDE com outros 44 operários e que será enviado para o Tarrafal, integrando a primeira leva de prisioneiros que inauguram o campo de concentração.
O grupo da URAP deslocou-se também, sempre acompanhado por uma guia, à chaminé, na actual Rua da Bandeira, junto ao Largo de Coimbra, e às colectividades "Os Penicheiros", "Luso" e Cine-Clube.
Mais de um século de industrialização sedimentou no Barreiro uma memória colectiva, resultante de contributos libertários, sindicalistas, anarquistas, cooperativistas, republicanos, socialistas, esperantistas, comunistas, que se projectam na imagem do concelho enquanto pilares da sua identidade, afirmando uma cultura de trabalho e um passado de resistência e luta por um futuro feliz.
O desabrochar do movimento operário, marcado pelos conflitos sociais do final do século XIX, coloca o Barreiro, ao longo do século XX, no centro de acontecimentos que constituem referências ímpares nas lutas de oposição ao regime de Salazar e Caetano.
O núcleo visitou alguns locais presentes na "Rota da Resistência" que nos transportam para os episódios onde foram travadas lutas por melhores direitos laborais e sociais, e contra a repressão, resultando em mais de 400 presos políticos, só no Barreiro. A vasta história de resistência à ditadura salazarista e marcelista marcou o Barreiro em cada local da cidade.
Desde a semana de agitação de Fevereiro de 1935 até à participação de dezenas de colectividades no trabalho cultural e desportivo levando os barreirenses à consciencialização política e de classe, são inúmeros os exemplos de luta por uma sociedade mais justa.