Intervenção de Alberto Andrade na Sessão Pública de Afirmação dos Ideais Antifascistas

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 Caras convidadas e convidados

Senhoras e senhores

 Gostaria ainda de partilhar convosco algumas reflexões breves.

Há já algum tempo que tem vindo a ser difundido um projecto de criação de um denominado "Museu Salazar". A ser instalado na nossa terra. Alguém, muito provavelmente os seus promotores, tem encontrado eco na comunicação social nacional. Mas também na regional. Face às reacções da opinião pública o planeado museu foi, significativamente, rebaptizado de «Museu do Estado Novo».

Este projecto é, desde logo, caracterizado como uma "mais valia" e uma "âncora" para o desenvolvimento do concelho. Será?

Este projectado "Museu" é, depois, apresentado como algo que seria "devido" pelos seus concidadãos ou pelo município de origem ao ditador. Mas não é notório e indesmentível que Salazar foi tão responsável pela opressão, miséria e atraso de Santa Comba Dão como o foi do resto do País?

Esta iniciativa é, ainda, anunciada como académica. Mas não será que, queiram ou não os seus promotores, defensores e apoiantes, este projecto, objectivamente, visa o revivalismo, o excursionismo e a propaganda do fascismo? Seria como se na Alemanha surgisse um Museu de Hitler.

Este "Museu" é, finalmente, apontado quase como a salvação para o atraso do concelho. Certamente que há outras prioridades que conduzam a um desenvolvimento equilibrado, socialmente justo, com emprego produtivo

E já agora algumas questões mais práticas.

O executivo camarário de Santa Comba Dão alega a todo o momento dificuldades financeiras. Vem agora falar num investimento que diz ser de mais de 5 milhões de euros. De onde vem o dinheiro?

Qual o espólio deste futuro "Museu"? A cama? O pincel da barba? Meia dúzia de manuscritos? Que se saiba todo o acervo documental de Salazar está na Torre do Tombo. Disponível, como é óbvio, para consulta e estudo de quem o quiser fazer.

E com que cobertura legal e a que título vai receber Rui Salazar de Lucena e Mello um lugar remunerado, vitalício, numa futura sociedade, no montante anual de 24 mil euros? Ou seja, dois mil euros por mês, actualizáveis. Quantas pessoas em Santa Comba Dão auferem deste vencimento? E como vai ser com os outros herdeiros, que representam os dois terços restantes?

Caras convidadas e convidados

Senhoras e senhores

Para terminar só uns breves comentários a algumas declarações públicas do Presidente da Câmara, engenheiro João Lourenço.

Refere que sondagens feitas pela Câmara apontam para percentagens tais de apoio ao "Museu Salazar" que apenas 0,2%, isto é, 25 repetimos, 25, santa comba denses estariam contra. É obra! Para além de não corresponder à realidade, há muita gente em Santa Comba contra este projecto mesmo que esteja em silêncio, ainda assim teríamos todo o direito a discordar e a opormo-nos. No salazarismo é que não! Esta é uma enorme diferença entre o antes e o depois do 25 de Abril de 1974.

Afirma o senhor Presidente que "o fascismo em Portugal já morreu há muito e está bem enterrado e ninguém tem vontade de o desenterrar". Ou "O fascismo está morto e Salazar enterrado sob sete palmos de terra. Deixá-lo estar assim para sempre".

Gostaríamos, com toda a sinceridade, de subscrever estas belas palavras. Só que a realidade, como bem sabemos, é bem diferente.

Bastaria que o senhor João Lourenço lesse os comentários às últimas notícias relacionadas com o Museu Salazar nas edições on-line dos jornais. Ou estivesse atento às notícias da RTP sobre as manobras rasteiras visando, através da falsificação da votação por SMS, a eleição de Salazar como o "Grande Português". Ou se recordasse que os movimentos neo-nazis em Portugal já assassinaram por mais de uma vez depois do 25 de Abril. E que hoje mesmo deixam entender ameaças veladas aos que se opõem à construção do seu Museu do excursionismo salazarista.

Santa Comba Dão merece mais, muito mais, do que ficar no mapa "turístico" de saudosistas duma ideologia repudiada e condenada pela história.

 Muito obrigado.

Santa Comba Dão, 3 de Março de 2007

 Alberto Andrade

 

 

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