Intervenção de Vítor Dias - 50 anos do III Congresso da Oposição Democrática

Intervenção de Vítor Dias - 50 anos do III Congresso da Oposição Democrática
1 de Abril de 2023, Aveiro

Boa tarde a todos, sejam bem-vindos a esta sessão promovida pela URAP em evocação dos 50 anos do 3º Congresso da Oposição Democrática que constituiu uma poderosa jornada de luta antifascista, uma valiosa realização unitária do movimento democrático e um assinalável contributo para o enfraquecimento da ditadura fascista e subsequente conquista da liberdade no glorioso e jamais esquecido 25 de Abril de 1974.


A este propósito, é justo recordar que o 3º Congresso não só não caiu do céu aos trambolhões em Abril de 1973 como, pelo contrário, é inseparável do vasto e rico património de análises, de iniciativas, de lutas e de avanços que as forças, correntes e personalidades democráticas promoveram em resposta à ascensão ao poder de Marcelo Caetano em Setembro de 1968 e às suas manobras demagógicas visando dividir e anestesiar o movimento antifascista.


De facto, creio que hoje não pode haver dúvidas da importância crucial que teve uma orientação que, sublinhando que a ditadura fascista mantinha todas as suas características fundamentais e que não seriam os fascistas a enterrar o fascismo, sublinhava ao mesmo tempo que não se deviam perder de vista as possibilidades de explorar em profundidade todas as concessões que o regime demagogicamente fizesse e de abrir um novo curso político na vida nacional.


Com efeito, é, em consequência dessa orientação, que entre o Outono de 1968 e o 25 de Abril de 1974 se regista um forte dinamismo das iniciativas antifascistas de que são exemplo:
- a crise académica de Coimbra em Abril e Maio de 1969 e outras importantes lutas estudantis em Lisboa e Porto nos anos seguintes;
- a intervenção combativa na farsas eleitorais de Outubro de 1969 e Outubro de 1973;
- a formação do Movimento Democrático de Mulheres ainda em 1969;
- a criação em Novembro de 1969 do MJT – Movimento da Juventude Trabalhadora;
-a constituição no final de 1969 da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos;

-a formação da Intersindical em Outubro de 1970 e o posterior e vasto movimento de acções e de lutas conduzidas pelas direcções sindicais da confiança dos trabalhadores;
- a criação de um conjunto de cooperativas livreiras dirigidas por democratas(e que até ao seu encerramento pelo governo em 1972, funcionaram como úteis pontos de apoio à luta democrática);

-a formação em 1972 de uma Comissão Nacional para a Defesa da Liberdade de Expressão que reuniu dezenas de jornalistas e escritores;

- a fundação da União dos Estudantes Comunistas em 1972 e a fundação do Partido Socialista em Abril de 1973;

-o crescente afundamento do governo fascista no atoleiro da guerra colonial;
-a vaga de greves operárias dos primeiros meses de 1974.


A esta lista de iniciativas há pois que juntar o próprio 3º Congresso da Oposição Democrática que,portanto,se realiza num contexto geral de crescente isolamento do regime e de ascenso e dinamismo das forças e sectores democráticos.
Aliás, o 3º Congressso da Oposição Democrática acaba por tornar mais vísivel e mais incontornável a evidência de que o movimento antifascista já dispunha de milhares de activistas,com um grande peso de jovens,todos dotados de uma profunda consciência política.
Referido este facto,é agora tempo de sublinhar que estes milhares de activistas viriam a desempenhar um importante papel logo nos primeiros dias e meses a seguir ao 25 de abril.


Com efeito estes milhares de activistas, sem necessidade de muitas reuniões ou minuciosas instruções, rapidamente se empenharam naquilo a que então chamávamos as tarefas de democratização da vida nacional (conquista dos sindicatos corporativos,saneamento em câmaras municipais e juntas de freguesia, formação de comissões de moradores e de trabalhadores, elaboraçáo de um novo recenseamento eleitoral).


50 anos é muito tempo e por isso talvez não valha a pena dos 50 anos do Congresso tirar muitas lições para a actualidade. A não ser uma : que vale a pena ter ideais, que vale a pena lutar por eles e sobretudo que vale a pena lutar contra os novos fascistas que estão degradando e envenenando a vida política nacional.

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