A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) celebrou sábado, dia 30 de Abril, com um almoço, o 46º aniversário da organização e realizou a Assembleia Geral Ordinária, em sessão presidida pelo presidente da AG, Levy Baptista, na Casa do Alentejo, em Lisboa.
A AG contou com a presença de 98 associados que apreciaram e votaram o Relatório de Actividades de 2021 e o Relatório das Contas de 2021 e respectivo parecer do Conselho Fiscal. O Relatório de Actividades de 2021 e o Plano de Actividades para 2022 foram igualmente discutidos e votados por unanimidade.
Outros temas importantes presentes na Assembleia foram o lançamento de uma campanha de fundos com vista à aquisição de uma sede para a URAP, o trabalho da URAP nas escolas e a apresentação de uma “moção” sobre a paz.
O presidente do Conselho Fiscal, Álvaro Contreiras, que apresentou o Relatório das Contas, considerou que as contas da URAP têm tido uma evolução sustentada e positiva, e propôs um voto de louvor ao Conselho Directivo.
César Roussado, do Conselho Directivo, interveio em seguida para fazer uma síntese do balanço da actividade no período que medeia a última assembleia e a presente.
O coordenador da URAP, José Pedro Soares, usou então da palavra para destacar o facto de a assembleia se realizar a 30 de Abril, no 46.º aniversário da URAP.
“Trata-se de um percurso de intervenção política, associativa, cívica, de luta e resistência de que nos orgulhamos, um caminho no fundamental documentado, ao longo dos anos, nas edições regulares do nosso Boletim”, disse.
José Pedro Soares reafirmou que o caminho da URAP será de “intervenção e luta, em defesa da memória histórica da resistência antifascista, ao mesmo tempo que, atentos à actualidade política e social, procuramos sinalizar e combater os novos fenómenos ligados ao reaparecimento da extrema-direita, xenófoba e fascista, e também a guerra, lutando pela paz, pelo progresso, a justiça, a democracia participada, atentos e empenhados em defender a liberdade e as outras tantas conquistas do 25 de Abril cujo aniversário também celebramos”.
Ao referir o 48º aniversário do 25 de Abril, o coordenador da URAP propôs a constituição de uma comissão visando a elaboração de um programa para os 50 anos da revolução.
Em seguida, o coordenador da URAP, que lembrou que a actividade da organização “apesar das limitações resultantes ainda da pandemia, não parou”, destacou entre outros “o trabalho com escolas e professores, as inúmeras sessões do Roteiro da Resistência em tantas localidades para dar a conhecer os livros editados pela URAP, as sessões evocativas de lutas, publicações, aniversários de lutas travadas”.
Valorizou igualmente “o reforço dos núcleos, as suas reuniões e funcionamento regular, o recebimento das quotas e a entrada de novos associados, como passo indispensável do reforço da URAP”, a instalação de “um novo programa informático, criado de raiz”, e alertou para a campanha “Uma sede para a URAP”, devido à necessidade de “um espaço com melhores condições onde possamos reunir e trabalhar”.
Depois de falar “no trabalho que a URAP vem realizando para o levantamento dos ex-presos políticos, no Registo Geral de Presos da PIDE, depois Cadastro e agora também nas Ordens de Serviço a PIDE e nos Arquivos do Tribunal Militar”, referiu-se às relações internacionais “com associações da Raia e Estremadura espanhola, com os amigos da Sérvia e outras da região dos Balcãs, no âmbito da FIR - Federação Internacional de Resistentes, da qual a URAP é há muito filiada”.
“A URAP não pode estar distante, nem ficar de fora dos problemas da actualidade”, afirmou José Pedro Soares, para acrescentar que “a URAP deve (…) contribuir para denunciar e combater tudo o que tem em vista fragilizar o regime democrático e as conquistas que a Constituição consagra”.
Salientando que “temos uma nova composição da Assembleia da República onde a extrema-direita reforçou a presença e um novo governo agora de maioria absoluta”, e que a situação económica da população piorou “não só em resultado da guerra na Ucrânia, sem fim à vista, mas pela acção dos diferentes protagonistas da qual será provável nova arrumação de forças (…)”, elencou em seguida as muitas tarefas que a URAP prevê realizar.
Para terminar, o coordenador da URAP lembrou as pessoas que morreram no ano transacto e homenageou quadros da URAP que permanecem ao lado da organização há muitos anos e a ela dedicam o seu empenhamento e trabalho.
Carlos Mateus, do Conselho Directivo, iniciou a intervenção sublinhando que o crescimento da organização e da actividade, e o aumento do número sócios tornam necessário à URAP “possuir um espaço próprio na cidade de Lisboa, destinado à sua sede, com capacidade para acolher os indispensáveis serviços administrativos e espaços de reunião para os dirigentes e associados, e também, se for possível, para convívio e realização de actividades de natureza lúdica e cultural”.
Deste modo, e dada a urgência na sua concretização, a URAP inicia “uma audaciosa campanha de fundos, com o objectivo de alcançar a quantia de 250.000 Euros”, pelo que se apela “a todos os sócios e a amigos da URAP para uma contribuição especial, da ordem dos 1.000 Euros”.
Depois de afirmar que já há 96 aderentes a esta campanha “que totalizam compromissos no valor de 56.840 Euros, uma parte dos quais já entregues”, disse que a URAP possui também 30.000 Euros da venda de livros, e que se irá “abrir uma conta bancária para este efeito”.
João Neves, membro do Conselho Nacional e responsável do núcleo de Peniche, centrou a sua intervenção na importância do trabalho da URAP nas escolas, fazendo um balanço “das dezenas de sessões presenciais e on-line nas escolas, do 2º e 3º ciclos do Secundário, e em Universidades, no ensino público e numa escola do ensino privado, quer turma a turma, quer em sessões nas quais se juntaram mais do que uma turma”.
Apelou, por fim, à planificação do trabalho já para o próximo ano lectivo, tendo em consideração a “planificação do contacto com as escolas; a preparação das sessões; as questões a abordar”.
“Nesta nossa intervenção nas escolas, não podermos esquecer, a importância dos testemunhos e as indispensáveis referências e experiências da luta antifascista, o significado profundo e transformador da Revolução de Abril bem como os temas da cidadania, da paz e outros tão atuais, como o combate ao racismo, ao extremismo de direita e sempre a defesa da democracia e da liberdade”, disse para terminar.
Quando o mundo ainda não está liberto de uma pandemia, a Covid-19, uma outra tragédia, a invasão da Ucrânia pela Rússia, dia 24 de Fevereiro passado, após oito anos de um conflito interno, assola a Europa e o mundo, com consequências trágicas para as populações visadas, as cidades e as aldeias, a economia.
Nesse sentido, Marília Villaverde Cabral, vice-presidente da Assembleia Geral, apresentou uma Moção à assembleia, que será enviada aos órgãos de soberania, votada com cinco abstenções, na qual os presentes “apelam à imediata cessação das operações militares e a adopção de uma solução negociada para o conflito, de acordo com o Direito Internacional e os princípios da Carta das Nações Unidas”.
Após afirmar que para a URAP “a guerra não é solução para a resolução de conflitos, nem serve os interesses dos povos, que são dela sempre as primeiras vítimas” e de “repudiar todas as manifestações de fascismo, nazismo e nacionalismo agressivo, onde quer que se manifeste”, a Moção defende que “Portugal deve pautar a sua acção pelo respeito dos princípios inscritos na Constituição da República Portuguesa, que preconiza a dissolução dos blocos político-militares e o desarmamento, o respeito pela soberania dos países e a resolução pacífica dos conflitos. Deve igualmente distanciar-se da política agressiva da NATO e da tentativa de militarização da União Europeia”.
Os sócios presentes pertenciam aos núcleos do Algarve, Almada, Amadora, Aveiro, Barreiro, Beja, Braga, Cacém, Cascais, Évora, Lisboa, Loures/Odivelas, Mafra, Mem Martins, Moita, Montemor-o-Novo, Peniche, Porto, Queluz, Santa Iria da Azóia, Seixal, Setúbal/Palmela, Vila Franca de Xira e Viseu.
Na assembleia intervieram ainda vários dirigentes e representantes dos núcleos, que apresentaram como denominador comum as muitas sessões que decorreram este ano em todo país para apresentação do último livro editado pela URAP “Elas estiveram nas prisões do fascismo”.
José António Amador, de Peniche, realçou a importância das visitas de grupos e de escolas ao Museu Nacional da Resistência e Liberdade; Diamantino Patarata, do Conselho Nacional, da Moita, referiu o Ciclo Anual de Cinema de Resistência e Luta; Sá Marques, de Santa Iria da Azóia destacou a solidariedade da URAP para com os trabalhadores das fábricas em dificuldades e as
deslocações colectivas ao teatro de Almada Joaquim Benite.
Vladimiro Inácio, de Vila Franca de Xira, falou do papel da URAP no desfile do 25 de Abril pelas ruas da cidade de Vila franca de Xira; Teresa Lopes, do Conselho Directivo, do Porto, abordou o trabalho de acompanhamento do futuro Museu da Resistência e Liberdade, bem como a manifestação da evocação da luta de muitos milhares de pessoas contra a carestia de vida de há 50 anos, nos tempos da ditadura fascista.
Luís Matos, de Setúbal, relatou as sessões da URAP nas escolas; Silvina Miranda, de Évora, informou as várias iniciativas realizadas no âmbito do 25 de Abril e da importância de se falar com a juventude; Edgar Costa, de Almada, falou da apresentação de "Elas estiveram nas Prisões do Fascismo", que reuniu mais de 150 pessoas, bem como a sessão sobre a Constituição da República Portuguesa.
Margarida Machado, do Conselho Nacional, de Montemor-o-Novo, descreveu o trabalho desenvolvido pelo núcleo; José Marcelino, do Conselho Nacional, abordou a importância do trabalho nas escolas; Jaime Machado, de Aveiro, enumerou as últimas iniciativas, enfatizando a homenagem a António Regala, do Conselho Nacional, que morreu recentemente. Propôs que a URAP comece já a trabalhar visando a evocação dos 50 anos do Congresso da Oposição em Aveiro
António Vilarigues, do Conselho Nacional, de Viseu, fez o ponto da situação do "chamado" Museu Salazar e referiu a homenagem ao Capitão de Abril Gertrudes da Silva que teve um papel importante na libertação dos presos políticos de Peniche; Carlos Areal, de Alenquer, falou da importância da investigação na Torre do Tombo e as reuniões que tem feito com professores de História, no que foi acompanhado por Armando Silva, de Évora.
Jorge Matos, do Conselho Nacional, do recém-criado núcleo de Braga, tomou posição sobre uma exposição contra os valores de Abril na entrada do Hospital Público da cidade; Joana Gonçalves, de Lisboa, referiu a necessidade de estruturar melhor a actividade, dado o elevado número de sócios, e falou sobre as Comemorações dos Centenários da Seara Nova e do PCP.
Francisco Canelas, do Conselho Directivo, abordou as questões internacionais, destacando o papel da Federação Internacional de Resistentes (FIR); José Viola, do Conselho Nacional, do Algarve, sugeriu que a URAP abordasse os problemas das antigas colónias portuguesas; Eugénio Ruivo, de Mafra, falou do trabalho nas escolas do concelho, com a participação de cerca de mil estudantes e professores, e da necessidade da construção de um memorial com o nome de todos os 140 antifascistas presos no Concelho de Mafra.
A mesa da Assembleia Geral era composta pelo presidente, Levy Casimiro Baptista, a vice-presidente, Marília Villaverde Cabral, a primeira secretária, Celestina Leão, e a segunda secretária, Eulália Miranda.


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