A directora do Museu do Aljube Resistência e Liberdade, Rita Rato, foi a oradora principal, dia 11 de Setembro, da sessão de apresentação do livro “Elas Estiveram nas Prisões do Fascismo”, organizada pelo núcleo de Almada da URAP.
Na Sociedade Filarmónica Incrível Almadense (SFIA), perante uma assistência de 160 pessoas, a sessão iniciou-se com a exibição de um filme que compila extractos de entrevistas a mulheres presas, nas quais estas prestam testemunhos da sua vida e luta, realizadas pelo Museu do Aljube.
Mara Martins, presidente da colectividade, participou na inicativa declamando os poemas "Pensava em meu irmão", de Ilse Losa, e "Quando vieres" de Eugénia Cunhal.
Rita Rato, na sua intervenção, referiu que as mulheres presas eram jovens, com filhos pequenos de que tinham de se separar e que nem os podiam abraçar nas visitas à cadeia. Esta separação vinha muitas vezes já da clandestinidade.
Eram mulheres corajosas, lutadoras contra o fascismo num contexto muito retrógrado em que não lhes era reconhecidos direitos iguais aos dos homens. Eram domésticas, trabalhadoras agrícolas, intelectuais, que permaneciam nas celas do Aljube, os curros, em isolamento. Os presos eram tratados como gado, salientou.
Sublinhou que a resistência teve uma dimensão nacional visto haver registo de presas de todos os pontos do país. Muitas lutas por elas promovidas eram lutas pela sobrevivência, contra a fome, outras de carácter espontâneo, mas ainda outras com um carácter organizado e articulado notável.
Depois de fazer notar que o desconhecimento é campo fértil para o aparecimento de ideias fascistas, a oradora referiu a forma como o Estado Novo era propagandeado a partir dos livros da escola. Hoje repetem-se algumas formulações destas sem se saber que eram as formulações do fascismo a falar de si próprio, considerou.
Acrescentou, assim, que este livro da URAP representa um papel muito importante nesta batalha de esclarecimento, e é uma inspiração para os valores da solidariedade.
A mesa da sessão era constituída por Marta Matos, que presidiu, e Carlos Mateus, do Conselho Directivo da URAP, e pela própria Rita Rato.
Carlos Mateus iniciou a sua intervenção pedindo um minuto de silêncio pela morte do presidente Jorge Sampaio.
Destacou a importância do poder local democrático e do movimento associativo, presentes na sessão, e saudou os representantes das Forças Armadas e outras associações cívicas.
Carlos Mateus falou do trabalho de investigação que a URAP desenvolveu tão importante para o resultado deste livro, e referiu a relevância do trabalho editorial da URAP para a preservação da memória.
Sem esquecer que a sessão se realiza a 11 de Setembro, o orador afirmou: “fala-se muito do 11 de Setembro de Nova Iorque, mas há um silenciamento em relação ao golpe fascista no Chile, em 1973, no qual muitos milhares foram assassinados, isto quer dizer que a democracia quando chega não fica para sempre. Tem que ser permanentemente defendida e consolidada. Exige empenho e vigilância”.
Referiu os protocolos e colaboração que a URAP tem estabelecido com várias autarquias, tal como com a União de Freguesias de Almada, Cova de Piedade, Pragal e Cacilhas para divulgação da actividade da URAP junto das associações e das escolas.
O dirigente da URAP, agradeceu à SFIA - dirigentes e técnicos - cujo total empenho do ponto de vista logístico foi decisivo para o sucesso da iniciativa, deixando evidente o valor de um movimento associativo popular forte, empenhado e participativo na vida local, pilar indispensável da nossa comunidade e da democracia.
O núcleo de Almada da URAP vai continua a homenagear homens e mulheres antifascistas que marcaram a história a resistência ao fascismo em Almada e elaborar o roteiro dos lugares históricos da resistência no Concelho.
Presentes na sessão duas ex-presas políticas de Almada, Bárbara Judas e Maria dos Anjos Dias, que foram saudadas pela representante da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense.
Para finalizar, Luísa Basto cantou, entre outras músicas, o Hino de Caxias, acompanhada por Mário Gramaço (saxofone, flauta transversal) e Alexandre Faria (guitarra).