Luísa de Medeiros, José António e Eugénio Ruivo, do núcleo de Mafra da URAP, encontraram-se com três turmas do 9º ano da Escola Básica, no âmbito da disciplina de História, dia 23 de Maio, para falarem sobre o regime fascista que oprimiu Portugal durante 48 anos.
Nesta sessão - integrada nas comemorações do 25 de Abril de 1974, que levou ex-presos políticos e dirigentes da URAP a muitas escolas de todos os pontos do país para falarem com os jovens estudantes sobre o fascismo e a liberdade pós Revolução dos Cravos -, a professora Luísa de Medeiros, filha do ex-preso político Afonso Esteves de Medeiros, natural de Mafra, relatou episódios da prisão de seu pai pela PIDE.
Sobre a sua vida, contou o que foi ser aluna do Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, em Lisboa, as discriminações de que eram alvo as raparigas, a sua vivência como membro da Pró-Associação dos Liceus, e ainda o que foi ser refugiada política, com o seu marido, em Bruxelas, entre 1964-1974.
O outro orador, José António, relatou como foi a prisão pela PIDE, em Cheleiros, do ex-padre Ismael Nabais Gonçalves, em Janeiro de 1974. Falou da solidariedade da população exigindo a sua libertação. Mencionou que o então Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, na sequência da sua libertação fez questão de se deslocar a Mafra para passear com o padre Ismael Nabais Gonçalves.
A convite do professor de História André Pedro e numa audiência de 70 alunos, o último a intervir foi Eugénio Ruivo, ex-preso político, que lembrou ter começado a trabalhar com o seu irmão desde muito cedo, e de ter começado a olhar à sua volta e a ver um país de grandes desigualdades sociais. Foram esses factos da sua vivência que marcaram a sua consciência social, de classe, política e cultural.
Eugénio Ruivo falou sobre o que foi ser preso político, dos maus tratos físicos e psicológicos, das técnicas utilizadas pela PIDE para tentar quebrar o preso. Descreveu também a libertação de todos os presos políticos após a revolução, em Caxias pelas 0:00 e em Peniche às 0:01, no dia 27 de Abril de 1974.
Após horas de incerteza, quando o General Spínola só queria deixar sair alguns detidos, que todos os presos responderam: "ou saímos todos ou não sai nenhum". Foi esta pressão somada à presença de muitas pessoas que se encontravam junto às cadeias de Caxias e de Peniche e a força dos militares do MFA que obrigou Spínola a recuar, disse Eugénio Ruivo.
Nos agrupamentos escolares de Mafra-Ericeira-Malveira-Venda do Pinheiro, o núcleo de Mafra da URAP organizou este ano, para comemorar o 48º aniversário do 25 de Abril, 11 sessões, com a participação de 899 alunos, 30 professores e cinco convidados. Contemplou estudantes a partir do 4º ano até ao 9º ano.