O livro "Os Presos e as Prisões Políticas em Angra do Heroísmo" foi lançado em Angra do Heroísmo, dia 9 de Maio, integrado na viagem que um grupo de sócios e amigos da URAP fez às ilhas Terceira e S. Miguel, nos Açores, entre os dias 8 e 12 de Maio.
A sessão de lançamento decorreu no Salão Nobre dos Paços do Concelho e contou com a intervenção de José Pedro Soares, coordenador da URAP, e de Álamo de Menezes, presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Estiveram ainda presentes o vice-presidente da Câmara, Guido de Luna da Silva Teles, e os comandantes das autoridades militares e da polícia.
A obra foi apresentada pelo escritor Domingos Lobo, que assinalou que este “é um livro colectivo” que foi “construído com o rigor possível a partir dos documentos existentes na Torre do Tombo, dos arquivos da ex-PIDE/DGS, de testemunhos que foram escritos pelos que estiveram enclausurados nas prisões políticas de Angra, que fazem parte do espólio da URAP”.
Sublinhou que "Os Presos e as Prisões Políticas em Angra do Heroísmo" é “um livro político porque toma partido contra o silêncio, contra as subliminares tentativas de branquear a história do fascismo, nomeadamente o seu lado mais sórdido. Este livro é um poderoso épico, com nomes, rostos, palavras de um povo que se ergueu do chão raso da ignomínia e cantou o dia claro e o direito a respirar livremente na sua própria pátria”.
“Político e Histórico este é o livro que conta a saga daqueles que viveram os tempos duros e sofridos da resistência ao fascismo, nas masmorras políticas da Fortaleza de S. João Baptista e no Castelinho de S. Sebastião, ambos na belíssima cidade de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira. Um livro mais sobre as gerações que viveram a política, a amizade, o companheirismo, o sonho transcendente de um mundo outro, melhor, mais solidário e justo”, afirmou.
A Viagem de Memória, Resistência e Luta às ilhas Terceira e S. Miguel, nos Açores, teve igualmente uma vertente de lazer, que levou a delegação da URAP composta por 23 pessoas, dia 9, a Porto Negrito, na freguesia de S. Mateus, na costa sul, onde em tempos idos chegavam à terra as baleias e se retirava o óleo que era ali recolhido em tanques de pedra.
Em seguida, visitaram a queijaria do Queijo Vaquinha, de leite de vacas raça Jersey, em Cinco Ribeiras, ainda na costa sul; a antiga vigia de baleias na Ponta do Raminho, na costa oeste; e a vinha de Biscoitos na costa norte, umas pequenas vinhas cercadas de muros de pedra para protecção do vento e do sal do mar.
No mesmo dia, a delegação deslocou-se ao Forte de São Sebastião (séc. XVII), transformado em Pousada de Portugal, em 2015, e à Fortaleza de São João Baptista, ocupada agora pelo Regimento de Guarnição n°1, onde pôde ver as covas na rocha que foram as celas filipinas, utilizadas para os presos da ditadura fascista.
No dia seguinte, 10 de Maio, a delegação foi ao pico do Monte Brasil, onde vislumbrou a caldeira do vulcão; subiu à Serra da Ribeirinha para ver as pastagens de gado bovino e mais abaixo as plantações de bananas na freguesia de São Sebastião; e também à Serra do Cume sobre a enorme caldeira de um vulcão, com quase 5 000 propriedades de pastagens muradas.
O dia 11 passou-se já em Ponta Delgada. O grupo visitou a fábrica de chá na Ribeira Grande; a Lagoa das Furnas; as fumarolas; o parque botânico Terra Nostra; e subiu à Lagoa do Fogo.
Ao final da tarde houve nova apresentação do livro "Os Presos e as Prisões Políticas em Angra do Heroísmo", numa sala do Hotel Avenida.
José Pedro Soares e Domingos Lobo intervieram na sessão, que contou com um acolhimento muito bom por parte das 35 pessoas presentes que reconheceram o papel da URAP na preservação da memória.
O último dia passado em solo açoriano,12 de Maio, foi preenchido com visitas às estufas de ananases, à saída de Ponta Delgada; às caldeiras dos vulcões: Lagoa do Canário e Lagoas das Sete Cidades; e a outros pontos com paisagens magníficas, como Ponta do Escalvado e Ponta dos Mosteiros, com múltiplos tons de verde das pastagens a perder de vista, salpicados por centenas de vacas e bezerros.
O livro "Os Presos e as Prisões Políticas em Angra do Heroísmo”, agora lançado e à venda em todo o país, relata a história dos dois fortes, desde a sua construção no século XVII, enquanto fortalezas militares, mas também dá exemplos da sua utilização como prisões político militares, como o cativeiro do rei D. Afonso VI, a prisão de Gungunhana ou os prisioneiros alemães durante a I Guerra Mundial.
Aborda a deportação para os Açores e as prisões políticas de Angra durante a Ditadura Militar (1926-1933) e no período do Estado Novo, desde 1933 até à desactivação em 1943, especificando o quotidiano dos prisioneiros políticos, a sua organização comunitária, a repressão. Descreve ainda o Calejão, da Poterna e das Furnas, as tentativas de fuga, os carcereiros, episódios do dia-a-dia, a luta para quebrar o isolamento.
O livro contém uma lista, elaborada com base nos arquivos da PIDE/DGS, na Torre do Tombo, no Museu Militar e em tantas outras instituições, abrangendo mais de seis centenas de presos, com indicação das profissões, naturalidade e data da prisão. Faz uma referência particular aos presos naturais dos Açores (estão identificados 40) e ainda a duas mulheres, por serem suspeitas de entregarem aos presos correspondência clandestina, e inclui algumas notas biográficas resumidas de presos cuja estada em Angra justifica particular destaque.


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