O assassinato de Mariana Torres e António Mendes, jovens trabalhadores conserveiros, a 13 de Março de 1911, numa manifestação de rua em luta por aumento de salários foi assinalado pelo terceiro ano consecutivo pela União dos Sindicatos de Setúbal com o apoio da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), no Largo das Fonte Nova, Setúbal.
A “luta dos operários conserveiros”, levada a cabo há mais de um século, foi reprimida pela recém-criada GNR. A greve de Setúbal tinha-se iniciado no final de Fevereiro pelas mulheres empregadas nas fábricas de conservas da região, que pretendiam passar a auferir 50 réis, independentemente de se tratar de trabalho diurno ou nocturno. A República tinha sido declarada apenas há cinco meses.
Esta luta mobilizou cada vez mais sectores do operariado, culminando a 13 de Março, quando os patrões de duas conserveiras da cidade procuram contornar os efeitos da greve substituindo os trabalhadores ausentes. Os confrontos que se verificaram entre as largas centenas de grevistas, concentrados na Avenida Luísa Todi, e agentes da GNR que escoltavam os patrões, culminou no assassinato dos operários António Mendes e Mariana Torres.
A indústria conserveira tinha um enorme peso em Setúbal com 140 anos de actividade, 420 fábricas, 613 marcas de 97 fabricantes. Em 1919, no auge da sua importância, havia 132 fábricas.
Em resposta à acção criminosa por parte das forças policiais da recém-formada República, os trabalhadores da Região de Lisboa e Alentejo convocam a primeira greve geral em Portugal, que se realizou dias mais tarde, a 20 de Março de 1911. Dezenas de milhares de trabalhadores abandonam os seus postos de trabalho em solidariedade com os operários de Setúbal.
A 8 de Março de 2016, a Câmara Municipal de Setúbal, integrada nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, inaugurou uma estátua dedicada a Mariana Torres, a operária conserveira assassinada em 1911.
No momento que o país atravessa, com um aumento brutal do custo de vida devido à inflação, e sem actualização de salários e pensões que o acompanhem, lembrar a luta dos operários conserveiros é lembrar a actual luta pelo aumento de salários, pela redução do horário de trabalho e por melhores condições de vida.