O livro “A Caminho do 25 de Abril. 50 Anos. III Congresso da Oposição Democrática. Aveiro Abril 1973” foi apresentado em Lisboa, dia 4 de Abril, no Museu do Aljube, Resistência e Liberdade, numa sessão aberta por Rita Rato, directora do museu.
Numa sala repleta, Rita Rato agradeceu à URAP e aos resistentes ali presentes a escolha do museu para apresentação do livro e passou de imediato a palavra aos oradores.
Na primeira apresentação da obra – lançada dia 1 de Abril, em Aveiro, durante as comemorações do 50º aniversário do congresso – intervieram Vítor Dias, do Conselho Nacional da URAP e congressista em 1973; Alberto Arons de Carvalho, jornalista, professor universitário e congressista; Helena Neves jornalista, escritora, docente universitária e congressista; e o comandante Mário Simões Teles, militar de Abril e dirigente da Rede de Cidadania de Oeiras.
Vítor Dias, que fez uma dissertação sobre o conteúdo da obra, contextualizou a era marcelista que, num gesto de pseudo-abertura, autorizou o congresso, para depois reprimir violentamente os participantes, dada a força e a coragem política demonstrada, na romagem ao cemitério, com uma violenta carga policial a que nem jornalistas estrangeiros escaparam.
Ao terminar, Vítor Dias defendeu, como conclusão a tirar para a actualidade, que vale a pena ter ideais e lutar por eles.
Para Alberto Arons de Carvalho, a unidade das várias correntes políticas representadas no congresso foi de primordial importância, bem como o número de pessoas que nele participaram.
Contudo, destacou, que para além dos congressistas presentes em Aveiro, houve
um número enorme de pessoas que esteve envolvido na sua preparação e em várias reuniões por todo o país que antecederam o III Congresso.
Helena Neves, usando um PowerPoint, falou das lutas que antecederam o Congresso, nomeadamente a luta estudantil de 1969, a ocupação da cantina da Universidade e o assassinato do estudante Ribeiro dos Santos, para além das lutas laborais e sindicais.
Sublinhou ainda, o que considerou estar muito esquecido, a importância do papel das colectividades de cultura e recreio, cineclubes, cooperativas populares, as lutas das mulheres, o trabalho desenvolvido nos bairros degradados, onde ela própria participou.
O Comandante Simões Teles realçou a importância das Teses e Conclusões do III Congresso para o Programa do MFA, e afirmou que os militares que estiveram presentes em Aveiro foram já fruto de decisões colectivas do Movimento das Forças Armadas.
Lembrou que nem todos os militares foram favoráveis ao 25 de Abril, e que o próprio General Spínola queria que não se cumprisse o programa do MFA, ao que os capitães responderam: Sr. General há tropas na rua. O programa é para se cumprir.
O militar de Abril considerou que muito do que se tratou no Congresso pode-se agora adaptar aos dias de hoje. “Havia uma guerra, havia censura, mas hoje ao olharmos para a comunicação social, também a verdade anda escondida. A liberdade, se virmos bem, claro, sendo diferente, também tem muito a desejar”, afirmou.
Durante a sessão, houve uma conclusão comum a todos os intervenientes: o III Congresso, antecedido de muitas lutas, demonstrou, até a nível internacional, que a oposição ao fascismo sabia o que queria e tinha condições para dirigir o país.
Esta novidade editorial da URAP é constituída essencialmente por diversos fac-similes, fotografias e 60 testemunhos de intervenientes no III Congresso da Oposição Democrática, que decorreu de 4 a 8 de Abril de 1973, no Cine -Teatro Avenida, em Aveiro, com a participação de 4.000 antifascistas.
O congresso foi organizado por uma Comissão Executiva, formada por democratas de Aveiro, e pelas CDE distritais. Em seguida, foi formada uma Comissão Nacional constituída por 500 democratas de todo o país. Foram apresentadas cerca de 200 teses e comunicações, muitas das quais colectivas.
Para além da Introdução, a publicação inclui as palavras de abertura do Professor Ruy Luís Gomes, eleito pela Comissão Executiva para presidir ao Congresso, embora exilado no Brasil (a sua cadeira esteve sempre vazia durante o Congresso); e tem em anexo a Carta-testamento do médico antifascista Mário Sacramento, promotor dos I e II Congressos.
Contém também a Declaração Final, aprovada na sessão de encerramento; a composição da Comissão Nacional e da Comissão Executiva; o enunciado das Teses nas várias secções; e a reprodução da lista, publicada em folheto e distribuída no congresso, por não ter sido possível encontrar o livro da 5ª secção.
Pode ler-se ainda um texto do escritor e Prémio Nobel da Literatura José Saramago, publicado no Diário de Lisboa, em 7 de Abril de 1973; um artigo da revista Seara Nova, de Maio desse ano; fotos de vários folhetos contendo as conclusões de teses apresentadas.
Por último, e pelo seu significado, destacamos a tese da autoria de um grupo de presos políticos em Caxias e extractos da tese "Assistência na doença aos presos políticos perante os direitos humanos: genocídio, morte lenta ou invalidez provocada?", da autoria de A. Veloso de Pinho.