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Fátima Messias, dirigente sindical
A greve é um direito fundamental.
Está consagrado não só na lei, mas também na Constituição da República Portuguesa.
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Esta Greve Geral, cujos reflexos estão muito para além do dia 30 de Maio, tornou evidente - mais do que qualquer outra anterior - o estado actual da democracia e das liberdades nos locais de trabalho, no sector público e no sector privado.
A greve é um direito fundamental.
Está consagrado não só na lei, mas também na Constituição da República Portuguesa.
É o direito que permite lutar pela defesa de todos os outros direitos.
Em pouco mais de 33 anos após a Revolução de Abril, realizaram-se no nosso país, cinco greves gerais: duas em 1982, outra em 1988 e a seguinte em 2002.
A mais recente, em 30 de Maio de 2007 teve um grande impacto junto da opinião pública e atingiu uma relevante dimensão ao envolver a participação de mais de um milhão e quatrocentos mil trabalhadores a nível nacional, muitos deles jovens que fizeram greve pela primeira vez e milhares de precários que enfrentando medos e represálias, demonstraram uma coragem e dignidade notáveis.
Foi a primeira Greve Geral realizada durante uma governação do Partido Socialista e claramente contra a sua política geradora de desemprego, precariedade, desigualdades, ataque aos serviços públicos e funções sociais do Estado, fomentadora da flexigurança e potenciadora da restrição e violação de direitos, liberdades e garantias.
Esta Greve Geral, cujos reflexos estão muito para além do dia 30 de Maio, tornou evidente - mais do que qualquer outra anterior - o estado actual da democracia e das liberdades nos locais de trabalho, no sector público e no sector privado.
Inquéritos sobre quem fazia greve, pressões e retaliações, ameaça de retirada de prémios e outras componentes variáveis, intervenção da PSP e da GNR, substituição de trabalhadores em greve, impedimento da intervenção de piquetes de greve, serviços mínimos alargados ao máximo, são, entre outros, exemplos ilustrativos desta realidade.
Mas esta foi também uma luta que despertou consciências e vontades de mudança, fez crescer níveis de sindicalização, tornou vitoriosas reivindicações prolongadas, evidenciou novos delegados sindicais a eleger agora, reavivou esperanças, perspectivas e alternativas.
Ao estado de servidão e submissão que o patronato e o Governo pretendem impor aos trabalhadores, foi possível contrapor a coragem e a defesa da dignidade, na exigência por uma efectiva mudança de rumo no nosso país.
Os resultados nem sempre se alcançam no dia seguinte.
A resistência e a luta continuam a ser indispensáveis nos tempos que aí vêm, face ao crescer da ofensiva no plano nacional e internacional, atentatória das liberdades e dos direitos conquistados.
Mas ficou claro que se ganharam forças renovadas para o combate contra as diversas e refinadas formas de opressão destes tempos em que vivemos.
Porque as razões que estiveram na origem desta Greve Geral se mantém e justificam a continuação da luta pela mudança de política e transformação da sociedade.
Lisboa, 20 Junho 2007