Todos os povos precisam de preservar a memória. Resgatar a memória é essencial para que um povo seja sujeito da sua própria história e possa conservar o seu património cultural, compreender o presente e idealizar o futuro.
Os 40 anos que antecederam o Portugal de Abril foram tempos negros para os portugueses e para os povos das ex-colónias, vítimas de um regime fascista com tudo o que tem de pior: pobreza, ignorância, obscurantismo, guerra, repressão por vezes até à morte.
Para relembrar esse passado, visando não permitir que ele regresse, a URAP tem estabelecido acordos com várias entidades para que sujam museus da resistência em sítios emblemáticos para o povo português, ao mesmo tempo que saúda e apoia iniciativas semelhantes quer nas ex-colónias portuguesas, quer em todos os outros países do mundo.
Com esse objectivo surgiu um projecto de requalificação da cadeia de Peniche, prisão política desde 1934, em Museu da Resistência destinado a actividades culturais de divulgação pública de uma das épocas mais perversa da História de Portugal, à construção de uma base de dados para recolha de informação bibliográfica e à organização de um espólio museológico constituído por doações pessoais de resistentes, desde cartas, fotografias, desenhos, jornais, documentos de conteúdo político, livros e entrevistas a antifascistas que passaram pela prisão de Peniche. A elaboração de uma lista dos presos políticos que passaram pelo Forte de Peniche foi já concretizada pela URAP.
Em Lisboa, a URAP é um dos subscritores de um protocolo entre o Ministério das Finanças e da Administração Pública, o Ministério da Justiça e a Câmara Municipal de Lisboa, que pretende passar a cadeia do Aljube para a tutela da Câmara Municipal de Lisboa, para que ali seja instalado um Museu da Resistência, a fim de ser reconvertido em sede de um Museu Municipal, integrando e alargando as valências da actual Biblioteca Museu República e Resistência, dedicado à memória do combate à ditadura e à resistência em prol da liberdade e democracia.
No Porto, a classificação do edifício da Rua do Heroísmo, 329, antiga sede da PIDE, que servia também de prisão política, num espaço museológico que, sendo compatível com o Museu Militar do Porto, que actualmente detém o edifício, permita homenagear os resistentes ao fascismo que ali estiveram detidos e expor documentos relacionados com os mais de 7 600 presos políticos encarcerados entre 1930 e o 25 de Abril de 1974.
Para a URAP, a notícia divulgada pelo Ministério dos Combatentes moçambicano de que iria transformar a antiga Vila Algarve, na cidade de Maputo, em Museu Nacional de Resistência Colonial é motivo de alegria dado que aquele local foi usado pela PIDE, durante o regime colonial, como centro de interrogatórios, torturas e de opressão a nacionalistas moçambicanos e a militantes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) que lutavam pela independência da ex-colónia portuguesa.
Segundo informam os media, o Ministério dos Combatentes em coordenação com o Conselho Municipal da Cidade de Maputo está a levar a cabo um trabalho multissectorial que envolve ainda a Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), o Arquivo de Património Cultural (ARPAC), o Centro de Pesquisa da História da Luta de Libertação Nacional (CPHLLN) e o Arquivo Histórico de Moçambique, com vista à materialização do projecto.
O edifício encontra-se num estado de degradação avançado, resultante da sua inutilização desde 1974, mas mantém os traços arquitectónicos originais e um conjunto notável de azulejaria portuguesa com temática algarvia, que irão ser mantidos.
"A pesquisa, preservação e divulgação da história de Moçambique constituem prioridades do Governo neste quinquénio, pelo que para a materialização do plano urge envolver todas as forças vivas da sociedade, desde o empresariado nacional até aos parceiros de cooperação", disse sobre o assunto o ministro dos Combatentes moçambicano, Eusébio Lambo.
O governante recordou que estiveram detidos naquele local figuras importantes como o pintor Malangatana Valente Nguenha, o poeta José Craveirinha, e tantos outros combatentes pela liberdade e considerou que o "local deve ser preservado e requalificado para que sirva de ensinamento e inspiração para as presentes e futuras gerações".
BREVE HISTORIAL
A "Vila Algarve" foi construída no ano de 1934 por ordens de José dos Santos Rufino, comerciante português estabelecido em Moçambique, que era simultaneamente proprietário da papelaria e livraria "A Portuguesa", personagem com uma elevada importância na vida cultural da então colónia portuguesa.
O edifício da "Vila Algarve" foi construído segundo o projecto do engenheiro Alfredo F. Soares, tendo sofrido uma primeira alteração em 1936. Mais tarde, em 1957, viria a ser profundamente alterado a partir de estudos do arquitecto Martins Rosa.
Foi usado durante muitos anos como prisão da PIDE/DSG, a polícia política do regime colonial português que tinha como principal função perseguir, aprisionar, torturar e assassinar todos os que se identificassem com a causa libertária.