“A ´Revolução dos Cravos´, em Abril de 1974, tornou-se um símbolo de que regimes fascistas, tais como a ditadura de Franco na Espanha ou o regime de Pinochet no Chile, poderiam ser derrotados pelo poder do povo e pela solidariedade internacional”, disse hoje, em Lisboa, Ulrich Schneider, secretário-geral da Federação Internacional de Resistentes (FIR).
Schneider falava na Conferência “Democracia, paz e liberdade. Fascismo nunca mais”, organizada pela URAP – membro integrante da FIR - no Auditório do Liceu Camões, onde participam oradores estrangeiros e portugueses, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Para o orador, a Revolução de 1974 foi “não só para os antifascistas em Portugal mas também da FIR e as associações que dela fazem parte (…) uma grande confirmação do seu compromisso antifascista de apoiar as forças de resistência em Portugal. Apenas alguns meses antes, os estudantes de Atenas tinham demonstrado que o regime dos coronéis gregos também não duraria muito mais tempo”.
Portanto, disse, “a Revolução dos Cravos, em Abril de 1974, tornou-se um símbolo de que regimes fascistas, tais como a ditadura de Franco na Espanha ou o regime de Pinochet no Chile, poderiam ser derrotados pelo poder do povo e pela solidariedade internacional.
Depois de referir que ouviu falar da Revolução do 25 de Abril quando ainda estava na Universidade e cantavam ´Grândola, Vila Morena´, tornou-se membro da “Federação Alemã dos perseguidos pelo regime Nazi – Associação dos antifascistas”, confessou “que a vitória do MFA, a Revolução dos Cravos, ajudou a reforçar a sua esperança de que a ameaça fascista pudesse ser superada e motivou-o a querer participar nesta luta”.
“Ainda me lembro bem de que nós antifascistas discutimos intensamente se o MFA e as suas acções poderiam ser uma opção política na luta contra outros regimes fascistas. Afinal, tínhamos outros dois regimes fascistas no poder na Europa: o regime de Franco em Espanha e o regime dos coronéis na Grécia. O regime de Franco sobreviveu à libertação do regime Nazi no turbilhão dos interesses americanos, enquanto os coronéis gregos foram politicamente apoiados pelos EUA e pela Grã-Bretanha para impedir desenvolvimentos progressistas no flanco sul da NATO”, contou.
Schneider referiu, entre outros, o golpe fascista no Chile, em 1973, para afirmar “que nas condições de dominação política dos EUA, não são apenas as estruturas militares nacionais que são importantes, mas também a possibilidade de nos opormos a essa potência hegemónica. Ou então, a possibilidade de fazer subir os custos de assegurar a dominação desta potência a tal ponto que ela tenha de procurar outras opções políticas”, para exemplificar com “o fim do envolvimento americano no Sudeste Asiático, quando, após o Acordo de Paris de Janeiro de 1973, os EUA foram forçados a retirar as suas tropas do Vietname”.
“Como podem ver, há 50 anos já pensávamos nas lições que poderíamos retirar da experiência portuguesa”, enfatizou.
Para Schneider, “os antifascistas em Portugal mas também da FIR e as associações que dela fazem parte, este acontecimento (o 25 de Abril de 1974) foi uma grande confirmação do seu compromisso antifascista de apoiar as forças de resistência em Portugal. Apenas alguns meses antes, os estudantes de Atenas tinham demonstrado que o regime dos coronéis gregos também não duraria muito mais tempo. Portanto, a Revolução dos Cravos em Abril de 1974 tornou-se um símbolo de que regimes fascistas, tais como a ditadura de Franco na Espanha ou o regime de Pinochet no Chile, poderiam ser derrotados pelo poder do povo e pela solidariedade internacional”.
O dirigente da FIR sublinhou a existência da luta antifascista em Portugal levada a cabo pelas “força políticas, cada partido, sindicatos, movimentos sociais, e também o contributo da luta anticolonial nos territórios africanos no combate contra o regime de Salazar”, acrescentando que foi desenvolvida uma “resistência política em todo o espectro social, bem como a tomada de posição das forças armadas – que eram utilizadas em particular para sustentar o sistema colonial de governo – contra o aparelho terrorista do regime de Salazar com a sua polícia secreta, a PIDE”.
Após 50 de democracia, o orador pergunta-se “como pode acontecer que em países onde o domínio fascista imperou nas suas várias formas, onde os povos tiveram experiências reais do terror e da guerra fascista há poucas décadas, forças e partidos que moldam a sua ideologia, política e prática de rua na tradição destes regimes fascistas estejam mais uma vez a chegar ao poder ou a ganhar influência política nos dias de hoje”, para falar dos recentes casos de Itália, da Alemanha e de Portugal, onde “este ano um em cada cinco eleitores – incluindo muitos jovens eleitores – ajudaria um partido populista racista e de direita como o ´Chega´ a ganhar influência política?”.
“Estes três destaques mostram dramaticamente que o perigo do fascismo na Europa de hoje não foi de modo algum eliminado. As nossas actividades e o nosso compromisso antifascista são mais urgentes do que nunca. Não só na preparação da campanha eleitoral europeia, mas também na vida política quotidiana”, frisou.
Ulrich Schneider falou ainda no combate que em Portugal e em outros países se trava pela memória, destacando o papel da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) nesse campo, como se pode ver no papel que desempenhou nas comemorações dos 50 anos de Abril e na construção do Museu da Resistência no Forte de Peniche.