Um dos últimos presos a ser libertado da cadeia de Caxias a 27 de Abril de 1974, o sociólogo Luís Moita, militante antifascista e anticolonialista, que pertenceu à Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, morreu dia 28 de Janeiro aos 83 anos.
Luís Manuel Vítor dos Santos Moita era doutorado em Ética pela Universidade Lateranense, em Itália, foi sacerdote católico e um opositor activo contra a guerra e a ditadura, tendo sido preso em Caxias, em 23 de Novembro de 1973, barbaramente torturado com espancamentos e tortura do sono.
Um dos protagonistas da vigília da Capela do Rato, em 1972, Luís Moita foi um estudioso da guerra e da paz, que cooperou com países africanos.
Nascido em Lisboa, a 11 de agosto de 1939, fez a instrução primária na Escola Primária de Alcanena, frequentou o Liceu Camões e o seminário de Almada, Seminário Maior dos Olivais. Em seguida, tirou a licenciatura em Teologia na Universidade Gregoriana, em Roma.
Em entrevista, Luís Moita referiu o percurso de sacerdote católico a investigador nas áreas das relações internacionais. "Depois de anos de intensa actividade de oposição à ditadura vigente em Portugal e à política colonial que sustentava uma guerra em três territórios africanos, oposição essa que me custou a prisão política, passei, após o restabelecimento da democracia em 1974, a dirigir uma organização não-governamental de apoio aos movimentos de libertação e de cooperação com os novos países africanos saídos do antigo império português", contou.
Com efeito, dirigiu durante 15 anos, entre 1974 e 1989, o Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral (CIDAC), organização não-governamental para o desenvolvimento; foi membro fundador do Conselho Português para os Refugiados (CPR) em 1991; leccionou a Cadeira de "Filosofia e Deontologia do Serviço Social" no Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa, entre 1989 e 1997. Foi Professor Associado Convidado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, até Outubro de 1998.
Luís Moita foi ainda vice-reitor da Universidade Autónoma de Lisboa, membro do Conselho Científico, professor catedrático de "Teorias das Relações Internacionais", director do Departamento de Relações Internacionais, e orientou durante largos anos a unidade de investigação OBSERVARE - Observatório de Relações Exteriores, entre outras funções.
Em 10 de Junho de 1998 foi condecorado pelo Presidente da República portuguesa com a Grande Cruz da Ordem da Liberdade e em 7 de Janeiro de 2005 foi condecorado pelo Presidente da República italiana como Grande Oficial da Ordine della Stella della Solidarietá Italiana.
A URAP presta homenagem ao lutador pela liberdade em Portugal e envia aos familiares e amigos as mais sentidas condolências.