A Associação para a Recuperação da Memória Histórica da Estremadura (ARMHE), que mantem estreita colaboração com a URAP, assinalou uma vez mais o massacre de Badajoz pela Coluna da Morte, comandada pelo Tenente-Coronel Juan Yagüe, que se iniciou em 14 de Agosto de 1936 e fez cerca de 3.800 mortos.
A ARMEHX luta pela divulgação da verdade dos factos ocorridos em Badajoz há 86 anos, pela justiça e pela reparação, ainda que simbólica, junto das famílias, e pela recuperação e identificação das ossadas dos republicanos assassinados e enterrados em valas comuns.
Um dos primeiros jornalistas a deslocar-se a Badajoz, a 15 de Agosto de 1936, foi Mário Neves, que publicou uma série de reportagens sobre o massacre no Diário de Lisboa, muitas delas cortadas pela censura do regime fascista de Salazar.
A matança, que visava o extermínio do adversário pelos militares golpistas, ocorreu em Badajoz, que deve ser a cidade espanhola onde proporcionalmente ao número de habitantes deverá ter tido o maior número de pessoas assassinadas na sequência do golpe militar, segundo um comunicado divulgado pela ARMHE.
O fotógrafo René Brut transmitiu para todo o mundo fotografias do cemitério de S. João e outros locais da cidade onde foram assassinadas muitas pessoas, que foram enterradas logo em fossas comuns neste cemitério, muitas das quais incineradas.
Por seu lado, o historiador Francisco Espinosa, documenta no seu livro “A Coluna da Morte” (Editorial Crítica, 2003) 1.400 assassinatos registados nos livros do cemitério e do Registo Civil, acrescentando que este número pode totalizar 3.800, atendendo a que muitas pessoas não foram registadas.
Mário Neves veio tão horrorizado de Badajoz que jurou nunca mais lá voltar. Contudo, depois da Revolução de Abril, já em 1982, percorreu os lugares onde presenciou os factos para um documentário que passou na televisão.
Na capa do Diário de Lisboa de sábado 15 de Agosto de 1936, o texto de Mário Neves dizia: “Badajoz está nas mãos de legionários e regulares marroquinos. (…) Cenas de horror e desolação na cidade conquistada pelos rebeldes”. O artigo inclui uma entrevista com Juan Yagüe, que não desmente que só naquele dia tenham havido cerca de 2.000 fuzilados.
“Durante todo o dia, houve assassinatos nas ruas da cidade essencialmente por legionários marroquinos. Yagüe ordenou nesse mesmo dia, 14 de Agosto, o confinamento de todos os prisioneiros – a maioria civis – na praça de touros”, conta Mário Neves.
Mário Neves e Marcel Dany, da agência Havas em Lisboa, e Jacques Berthet, de “O Tempo” foram os primeiros a entrar em Badajoz no dia 15, pouco depois das 9:30. Seguiram-se artigos publicados pelos correspondentes de “O Popular”, “O Figaro”, “Paris-Soir” e “Chicago Tribune”, com fotografias de René Brut, que reproduziram execuções em massa em vários locais da cidade e as ruas pejadas de cadáveres. A partir daí o mundo não podia ignorar.
O comunicado da ARMHEX afirma que a associação apoia, estará presente e apela a todos os cidadãos para participarem em todos os actos e comemorações que se celebrem na cidade de Badajoz e no velho cemitério de São João na manhã de 15 de Agosto, para recordar todos aqueles que sofreram a repressão por enfrentar o fascismo, defendendo a II República e uma sociedade mais livre.
A URAP está solidária com a ARMHEX e tudo fará para divulgar o massacre de Badajoz de 1936, para que a memória não se apague.