O Núcleo de Almada da URAP homenageou o Homem, o Escritor e o Resistente Fernando Miguel Bernardes, de 91 anos, dia 10 de Julho, na Associação Cultural Manuel da Fonseca, no Pragal, seis vezes preso, julgado e condenado, tendo passado pelas cadeias políticas de Coimbra, Porto, Lisboa e Caxias.
Na sessão, interveio José Manuel Maia, do Conselho Nacional da URAP, que falou sobre o homenageado, a sua vida e obra, e manifestou a intenção do núcleo de proceder de igual modo relativamente a outros homens e mulheres antifascistas, que marcaram a história da resistência e combate à ditadura fascista no concelho de Almada.
Carlos Mateus, do Conselho Diretivo da URAP, enquadrou a presente iniciativa no contexto mais geral da atividade da URAP, enquanto organização que honra a memória de todos aqueles, homens e mulheres, que pela sua abnegação e sacrifícios imensos tornaram possível a conquista da liberdade em 25 de Abril de 1974, que denuncia os crimes do fascismo e as tentativas do seu branqueamento, e que contribui para derrotar os projetos reacionários em curso e defender os ideais de Abril.
Mário Araújo, do Conselho Nacional da URAP, amigo de Fernando Miguel Bernardes, que conheceu quando ambos partilharam a mesma cela na cadeia de Caxias, revelou os seus valores intelectuais e de profundo humanismo, generosidade e solidariedade, mas igualmente de enorme abnegação e resistência física e psicológica à violência fascista.
A iniciativa contou com a participação musical da cantora Luísa Basto e dos músicos João Fernando, autor da música, do saxofonista Jorge Gramaço e do teclista Jorge Nunes, que interpretaram uma canção especialmente composta para o efeito e dedicada a Fernando Miguel Bernardes, a qual foi gravada em CD. Gil Marovas declamou o poema "A minha bicicleta" da autoria do homenageado.
Fernando Miguel Bernardes, que tem uma longa e forte relação com Almada, nasceu em Gândara dos Olivais, Leiria, em 14 de Dezembro de 1929, tendo frequentado as Universidades de Coimbra e Clássica de Lisboa. Como Engenheiro Geógrafo e bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, fez uma pós-graduação em Cálculo Científico. Docente do ensino superior, foi também técnico superior de sistemas informáticos na Lisnave, e diretor do departamento de Acção Sociocultural da Câmara Municipal de Almada.
Como escritor possui uma vasta e diversificada obra publicada, distinguida com vários prémios literários, com destaque para a poesia e contos para a infância e juventude, mas deixando a sua inequívoca marca de intevenção política, de denúncia do regime fascista em Portugal, em obras como "Escrito na Cela" (1982), sobre a cadeia de Caxias, "Docas Secas" (1991), e "Uma Fortaleza da Resistência", sobre a cadeia de Peniche.
A Assembleia da República reconheceu o "mérito excecional da sua contribuição dada à defesa da Liberdade e da Democracia".