No âmbito da celebração dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, o núcleo da URAP do Barreiro convidou, dia 30 de Setembro, o ex-preso político Faustino Reis e professores de várias escolas da cidade para uma visita a ‘Lugares da Resistência Antifascista no Barreiro’.
Na primeira iniciativa do núcleo destinada a assinalar os 50 anos do 25 de Abril, os participantes percorreram alguns dos muitos lugares simbólicos da luta antifascista no Barreiro, onde se registaram acontecimentos de resistência à ditadura de Salazar e Caetano.
Durante o percurso, o grupo teve oportunidade de falar sobre as lutas travadas nesses locais pela população barreirense e de enaltecer a iniciativa da URAP. Foi entregue a todos os professores um folheto de suporte à visita no qual figuram os doze locais que fazem parte do circuito ‘Lugares da Resistência Antifascista no Barreiro’.
Para a URAP, decorridos 50 anos sobre a Revolução de 25 de Abril de 1974, é cada vez mais importante preservar a memória e dizer às novas gerações que as liberdades e os direitos alcançados com a Revolução só se defendem se forem exercidos diariamente.
Para que a memória não se apague, divulgamos os doze ‘Lugares da Resistência Antifascista no Barreiro’.
Oficinas ferroviárias, onde a 23 de Maio de 1936 é preso serralheiro José Francisco e a polícia dispara fazendo vários feridos perante a reacção dos trabalhadores. No mesmo local, em Outubro de 1969, os ferroviários, usam uma braçadeira preta e declaram o “Luto Ferroviário”, em sinal de protesto, por melhores salários. Paralisam uma hora a nível nacional.
Rua da Bandeira – o nome da rua foi atribuído depois do 25 de Abril -, onde a 28 Fevereiro de 1935 realizou-se uma jornada de agitação e luta, com a colocação de bandeiras vermelhas em vários pontos da vila, uma das quais na chaminé das oficinas. A PIDE fez dezenas de prisões, e o ferroviário Acácio Costa foi enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal durante 12 anos.
Rua António José de Almeida, casa de José Jordão, que foi sede da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), em 1969, que nesse ano ganhou as eleições no Barreiro, apesar da fraude generalizada. O 5 de Outubro de 1969 foi comemorado com uma enorme manifestação que se dirigiu para a sede da CDE com a bandeira nacional.
Casa de Manuel Cabanas, na Rua Combatentes da Grande Guerra. Aí ocorreram reuniões contra o regime, uma das quais para comemorar o 5 de Outubro de 1960, tendo o próprio sido preso nessa data. A sua casa foi também sede da candidatura do General Humberto Delgado, em 1958.
Parque Catarina Eufémia, onde centenas de pessoas concentraram-se no dia 1º de Maio 1962 e conseguiram ir até à Baixa da Banheira. A GNR a cavalo cercou o parque perseguindo e espancando. Prenderam três mulheres.
Luso Futebol Clube, onde em 11 de Novembro de 1967, o Cineclube organizou uma sessão de Música e Poesia com diversos cantores entre os quais Zeca Afonso, que cantou “Os Vampiros”, canção proibida pelo regime. No final, membros da direcção do Cineclube foram presos pela PIDE.
Largo Gago Coutinho e Sacadura Cabral, onde houve uma tentativa de greve geral nacional, a 18 de Janeiro de 1934, contra a fascização dos sindicatos, preparada no Barreiro por um Comité de Acção Revolucionária composto por militantes anarquistas e comunistas. A tentativa falhou, houve várias prisões e rebentou uma bomba junto aos “Penicheiros”.
Teatro Cine-Barreirense, onde se realizou, a 24 de Outubro de 1973, um grande comício com milhares de pessoas, entre as quais os candidatos da Oposição Democrática que concorriam às eleições legislativas, que denunciaram a política fascista do regime e a guerra colonial.
Pensão Barreiro, onde a 8 de Março de 1957, a GNR invadiu o 1º andar da pensão onde um grupo de activistas do Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUDJuvenil) reunia-se para comemorar o Dia Internacional da Mulher. São efectuadas várias prisões.
Praça de Santa Cruz, onde em 11 de Abril de 1935 houve uma revolta popular, na qual as mulheres tiveram um papel muito relevante. Foi nessa praça que os presos da acção das bandeiras vermelhas de 28 de Fevereiro foram, inicialmente, interrogados e violentamente espancados pela PVDE.
Largo Alexandre Herculano, onde se assinala o despedimento pela CUF de 500 trabalhadores, no contexto da II Guerra Mundial, o que levou à greve de braços caídos e às marchas da fome, em Julho de 1943. O Barreiro é ocupado por forças militares e constituído um Comando Militar repressivo. É criado um Posto da GNR permanente dentro da CUF, que só foi extinto com o 25 de Abril de 1974.
Largo 3 de Maio, onde em 1970 foi organizada uma manifestação de solidariedade para com os presos da manifestação conjunta Barreiro/Moita com milhares de pessoas para comemorar o 1º de Maio. A GNR invadiu o Café da Pilar com cavalos e prendeu 20 pessoas. Na madrugada de 3 de Maio, a PIDE tinha prendido oito democratas do Distrito de Setúbal que são enviados para a PIDE no Porto, entre os quais Alfredo Matos e Álvaro Monteiro.
Mais de um século de industrialização sedimentou no Barreiro uma memória colectiva, resultante de contributos vários – libertários, sindicalistas, anarquistas, cooperativistas, republicanos, socialistas, esperantistas, comunistas – que se projecta na imagem do concelho enquanto pilares da sua identidade, afirmando uma cultura de trabalho e um passado de resistência e luta por um futuro feliz.
O desabrochar do movimento operário, marcado pelos conflitos sociais do final do século XIX, coloca o Barreiro, ao longo do século XX no centro de acontecimentos que constituem referências ímpares nas lutas de oposição ao regime fascista de Salazar e Caetano.
Entre 28 de Maio de 1926 e 25 de Abril de 1974, milhares de Portugueses foram perseguidos, presos, torturados, deportados, privados dos mais elementares direitos e até assassinados. Situação que se agrava a partir da década de 60, com o início da Guerra Colonial em África.
Ao longo de todo esse tempo, também no Barreiro, homens e mulheres resistiram, realizando quotidianamente pequenos e grandes actos de coragem revolucionária e suportando duras consequências. Actualmente são conhecidos mais de 700 nomes de homens e mulheres foram vítimas das polícias políticas PVDE/PIDE/DGS da ditadura fascista.