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Como
nos anos anteriores, desde a trasladação dos restos mortais dos 32
heróis do nosso povo que foram assassinados no Campo de Concentração
do Tarrafal pelo regime fascista entre 1936 e 1954, a URAP voltou a
homenagear a sua luta pela libertação de Portugal. No Mausoléu
situado no Cemitério do Alto de S. João foram também mais uma vez
homenageados os 340 portugueses que estiveram presos no ignóbil
campo
da morte lenta
do fascismo; mas de forma mais abrangente, também foram homenageados
os 236 patriotas africanos que ali estiveram também encarcerados
entre 1961 e 1974, tal como todos os que lutaram contra o regime
fascista e colonialista português que durou quarenta e oito anos
(1926-1974).
Contando
com a presença de dezenas de sócios e amigos da URAP, a homenagem
iniciou-se com breves palavras de Rosa Medina, membro do Conselho
Directivo da URAP, que dirigiu a cerimónia e saudou os presentes.
Apresentou em seguida Vanessa Borges para um momento musical
alusivo ao canto de intervenção com A
morte saiu à rua de
José Afonso e Cavalo
à solta de
José Carlos Ary dos Santos.
Em
seguida, houve lugar a um momento de declamação poética a cargo
do actor Fernando Tavares Marques, com os poemas Incomunicabilidade
e A
uma bicicleta desenhada na cela
de Luís Veiga Leitão e um poema da sua própria autoria em
homenagem aos heróicos tarrafalistas e denunciando a corrente
tentativa de branqueamento do fascismo em Portugal.
Em
seguida foi dada a palavra à coordenadora do Conselho Directivo da
URAP, Marília Villaverde Cabral, para a intervenção de
encerramento . Inicialmente referiu que para a URAP esta homenagem não
era uma simples efeméride em que se cumpria calendário assinalando
todos os anos a luta dos presos políticos do Tarrafal. Para a URAP e
para os antifascistas portugueses nunca se poderão esquecer os
crimes cometidos contra os portugueses pela ditadura fascista, bem
atestada no carácter insidioso do Campo de Concentração do
Tarrafal, edificado para procurar afrontar a convicção nas ideias
de liberdade, democracia e justiça social que os mais corajosos dos
resistentes antifascistas sempre mantiveram consigo. Isto num momento
em que várias ameaças pairam sobre os direitos conquistados com a
Revolução de Abril e às novas gerações é negado o conhecimento
da verdade acerca do domínio do fascismo sobre Portugal através da
promoção de um manto espesso de silêncio e deturpação. Tal como
Marília Villaverde Cabral sublinhou, no Tarrafal o próprio director
do Campo anunciou aos presos ali chegados em 1936, que quem ali
chegava não sairia dali com vida, tal como o médico presente que
afirmava peremptoriamente que estava ali apenas para passar certidões
de óbito. Sujeitos às mais vis privações, à falta de cuidados
médicos, às doenças tropicais, ao trabalho forçado, os presos
políticos resistiram e lutaram também eles dentro do campo. O
fascismo foi obrigado a encerrar o campo em 1954, ante poderosas
campanhas pelo seu encerramento em que a solidariedade internacional
também foi importante. No entanto, alguns anos mais tarde, o
Tarrafal voltou a ser aberto para prender os valorosos patriotas
africanos que lutavam pela libertação e independência dos seus
países do regime colonialista português. A coordenadora do Conselho
Directivo da URAP encerrou a sua intervenção destacando o facto de
a URAP ter estado presente em Cabo Verde no Simpósio Internacional
que a Fundação Amílcar
Cabral promoveu
em 2009 e ter apoiado a sua decisão de ali estabelecer um memorial
internacional de homenagem à luta dos povos pela sua liberdade.
Num momento pleno de simbolismo e emoção os presentes terminaram a cerimónia cantando em uníssono Grândola Vila Morena e A Portuguesa.