Mulher admirável, perseguida pela ditadura pela sua vida de combate e resistência antifascista, expulsa do ensino e presa três vezes, Maria Isabel Aboim Inglez, a “indomável” no parecer do grande poeta José Gomes Ferreira, foi homenageada a 08 de Março, numa iniciativa conjunta da URAP e da Biblioteca-Museu República e Resistência, da Câmara Municipal de Lisboa.
Para Margarida Tengarrinha, “a ferocidade implacável com que a perseguiu o seu inimigo, o ditador fascista Salazar, confirma que via nela uma mulher que lhe fazia frente com uma coragem sem vacilações e uma firmeza de carácter baseada em convicções fundamentadas em princípios teóricos que adoptara e a que era fiel”.

A neta Margarida Aboim Inglez referiu, com emoção, a luta da sua avó, sobretudo nas adversidades infligidas pelo regime ditatorial de Salazar que sempre a perseguiu e tentou demover dos seus ideais e acções antifascistas.
´Com cinco filhos, decidiu tirar o curso de Letras e com 40 anos enviou´, contou, acrescentando que ´precisou então muito de trabalhar para sustentar a família. Como era anti-regime e não católica, o salazarismo fechou-lhe os acessos a cargos públicos e até privados. Proibida de leccionar, aceitou ir para o Brasil, mas, apesar de se ter já desfeito de todos os bens, foi-lhe retirado o passaporte. Montou então um atelier de costura e deu aulas particulares até ao fim da sua vida´.

A oradora destacou ainda a participação empenhada de Maria Isabel Aboim nos movimentos de oposição nas campanhas eleitorais de 1957, como “membro da Comissão Central da candidatura de Arlindo Vicente, que era o candidato apoiado pelo PCP, e só depois da fusão das duas candidaturas é que apoiou a de Humberto Delgado”.
Margarida Tengarrinha referiu ainda que Maria Isabel Aboim Inglez “não foi candidata pela CDE porque verificou ter sido riscada dos cadernos eleitorais (…). Apesar disso, proferiu conferências subordinadas ao tema Conceitos de Igualdade, Liberdade e Democracia”.

A sessão, que encheu por completo a sala da Biblioteca-Museu da República e Resistência, foi antecedida por um pequeno filme da autoria da neta Isabel Aboim Inglez e na sala encontrava-se uma exposição de documentos da homenageada. Dirigida pela coordenadora do Conselho Directivo da URAP, Marília Villaverde fez um apelo à família para facultar à URAP aqueles documentos a fim de se elaborar uma brochura com a vida e história de Maria Isabel “para que esta Mulher não seja esquecida”.