Editorial da página da URAP

A URAP iniciou a 25 de Abril de 2007 a sua página na Internet.

Procuraremos apresentar nesta página uma informação regular sobre as actividades da URAP e dos seus Núcleos nas várias regiões do país.

Mas pretendemos também abrir aqui um campo de esclarecimento, informação, reflexão, comentário e análises sobre o fascismo e a luta antifascista, em Portugal e no mundo, não só nas diversas formas que marcaram o último século, mas também nas expressões que essa luta toma no tempo actual.

O fascismo não é um fenómeno histórico de uma determinada conjuntura. Tem  raízes sociais e económicas que aparecem como  resposta desesperada, numa sociedade em crise e uma classe que pretende impor pela força a manutenção do seu domínio, condicionando  a sociedade aos seus interesses.

Foi num cenário assim que se preparou e desencadeou no século XX o assalto do nazi-fascismo ao poder, com expressões próprias mas raízes comuns nos vários países da Europa.

No mundo de hoje encontramos traços igualmente inquietantes.

As esperanças de futuro andam  minadas pela instabilidade, a insegurança laboral, a polarização da pobreza e da riqueza, a crescente desigualdade planetária na distribuição dos recursos e rendimentos, a deslocação de milhões de pessoas a quem são negados direitos e meios de sobrevivência, criam angustiantes factores de destabilização e conflitualidade, agravados por uma política de guerras e de dominação.

À sombra do combate ao terrorismo e do medo à violência que acompanha os factores de desagregação social, desrespeitam-se direitos humanos, liquidam-se liberdades. A violência da exploração, da injustiça social, corrói a democracia, retira-lhe o apoio das pessoas, porque a democracia política não é acompanhada por uma justiça social, dando-se prioridade à  concentração de lucros e capitais, com  as consequências e medidas a que isso conduz. Desacreditam-se Instâncias políticas, conceitos ideológicos e valores políticos que estavam credibilizados com a vitória da democracia, deixando as pessoas numa massa mais moldável pela demagogia e a manipulação.

Este é um terreno onde o fascismo, a sua ideologia, a sua prática de violência, o seu desprezo pelos direitos do ser humano e pela democracia tem condições para manipular ressentimentos e explorar rancores.

Não é acaso o aparecimento e arrogante  recrudescimento e avanço de estruturas, organizações e propaganda de ideologias fascistas,  que procuram ganhar terreno e protagonismo.

As últimas semanas comprovaram, em Portugal, essa ofensiva. Já se propõem fazer no nosso país uma conferência de grupos neo-fascistas  para verem formas de «desenvolver o activismo na Europa», e organizar uma romagem ao túmulo de Salazar, em Santa Comba, como «forma de protesto contra a longa noite democrática».

Haverá quem queira dizer que o fascismo já passou à História.

Não voltará certamente nas formas que assumiu nos anos 20/30 do século passado.  Mas só uma grave ou leviana incompreensão da História pode levar à convicção de que o 25 de Abril pôs em definitivo Portugal ao abrigo de qualquer regime autoritário ou ditatorial. Por isso não pode deixar de nos alertar a insidiosa campanha de branqueamento da ditadura fascista (agora hipocritamente chamada «antigo regime») e o falseamento da memória, com apagamento daqueles que mais lutaram para ser livre o terreno que hoje pisamos.

A luta antifascista  mantém-se como exigência do nosso tempo.

A  URAP, União de Antifascistas Portugueses, tem  nessa luta uma presença e um património  vindo dos tempos da luta contra a ditadura fascista de Salazar e Caetano.

Mas a URAP não é uma união de sobreviventes da luta contra a ditadura fascista.

É uma organização aberta a todos os que, nas várias gerações, querem lutar contra o fascismo, contra as suas formas e manifestações na actualidade. Aberta a todos os que se levantam contra uma reescrita da História que quer branquear e reabilitar o que foram as ditaduras fascistas, em Portugal e no mundo, apagando por outro lado, numa simétrica falsificação, a resistência dos povos e dos que não cederam, não capitularam e se uniram para vencer a feroz versão de retrocesso social que o fascismo representa.

Não podemos deixar que o apagamento do que foi a ditadura, e a reabilitação dos seus responsáveis e da sua política abram caminho ao ressurgimento de ideologias fascistas e de  práticas políticas nelas inspiradas, ao mesmo tempo que se desenvolvem campanhas de descrédito, desvalorização e degradação da democracia.

Mais ainda porque há hoje em Portugal uma nova geração que teve a sorte de ser uma geração nascida depois de Abril. Que não teve de pagar o mais difícil dos impostos: o que foi tributado a tantas gerações, com todos os juros conhecidos, desde a prisão à tortura, passando por longos exílios, dentro ou fora do país, a per­correr,  caminhos que os roubavam da sua pró­pria terra. Não conheceu, felizmente, o peso da opressão policial, da repressão política, das prisões e torturas, da censura, da miséria, da emigração massiva e das guerras impostas pela política colonial do fascismo. Não viveu a abominação das concepções da ideologia fascista na sua versão salazarista que a ditadura quis impor ao nosso povo.

Na fase crucial que a civilização humana atravessou no século passado, o antifascismo foi a força que, em unidade e aliança, ousaram lutar pela democracia e o respeito pelos direitos do ser humano.

Também assim o povo português conquistou a liberdade que floresceu nos cravos de Abril.

E é com essa força e determinação que afirmamos, confiantes: Fascismo nunca mais!

Por isso aqui estamos.

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