“Aos que em Mafra, na longa noite fascista, foram portadores da chama da liberdade. O nosso reconhecimento”, lê-se na placa instalada no 40º aniversário do 25 de Abril, local onde este ano o núcleo da URAP de Mafra se concentrou para homenagear todos os antifascistas presos entre 1933 e1974.
Na cerimónia, no Jardim das Camélias, em frente ao Jardim do Cerco, em Mafra, usou da palavra Eugénio Ruivo, membro tem algum cargo??, e estiveram presentes familiares de presos políticos, nomeadamente de Afonso Esteves de Medeiros e de Mário Caracol.
Os membros da URAP, que depuseram simbolicamente 48 cravos junto da lápide, apelaram à futura instalação de um memorial, num espaço nobre da cidade, com os nomes dos 140 antifascistas presos, no âmbito das comemorações do 50º Aniversário do 25 Abril.
Eugénio Ruivo lembrou que “antes da Revolução de Abril de 1974, durante a ditadura fascista, muitos naturais do concelho de Mafra, assim como residentes, incluindo alguns estrangeiros, foram presos e torturados pela polícia política da ditadura (PVDE/PIDE/DGS)”.
“Segundo o levantamento da URAP (União dos Resistentes Antifascistas Portugueses), junto do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 140 cidadãos antifascistas, civis e militares; portugueses e estrangeiros foram privados da liberdade, em várias freguesias do concelho de Mafra”, disse.
Eugénio Ruivo, preso e torturado várias vezes pela polícia política da ditadura e membro da URAP- Mafra, relatou um acontecimento passado em Março de 1948, quando foram presos Afonso Esteves de Medeiros, Adelino de Figueiredo, António Joaquim dos Reis, António Pedro Miranda, António Silvestre Quintas, Carlos Cardosa, Carlos Moreira Vidal, Cipriano Sousa, Cassiano Ferreira, Francisco Maria Balão, João Gabriel Nunes, Herlander Leonardo Mota, Hélder Nunes Mota, Jaime da Cruz Correia, José Borges da Silva, Mauro Pena, Manuel dos Santos, e Sanches de Brito.
Os democratas, que foram detidos por informação prestada à PIDE pelo presidente da Câmara Municipal de Mafra, foram acusados da responsabilidade de terem aparecido “escritas, a letras grandes, frases contra a situação: Abaixo o Tarrafal, Amnistia, Viva a Democracia Portuguesa”, em muros da Quinta da Mougueta e da Tapada de Mafra. Acusados de pertencerem ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), estiveram detidos em Caxias, no Aljube, na António Maria Cardoso e em Peniche, alguns dos quais com medidas de segurança.
Afonso Esteves de Medeiros, proprietário da Farmácia Medeiros, em Mafra, que tinha sido condenado a 22 meses de prisão, esteve preso durante três anos, por estar sujeito ao acréscimo de um ano de medidas de segurança.
Em 1951, foi libertado em regime de liberdade condicional por 5 anos. Durante oito anos, teve grandes restrições à sua liberdade devido à prisão e à liberdade condicional a que foi sujeito.
Na impossibilidade de nomear todos os presos antifascistas, lembramos ainda os nomes de Carlos Simões, António Franco Trindade, José Filipe Teixeira, Ismael Nabais Gonçalves, Hélia Correia e Pinkus Israelski.
Eugénio Ruivo recordou o papel dos militares e dos civis que no dia 25 de Abril de 1974 contribuíram para o derrube da ditadura, nomeadamente com a participação da coluna militar da Escola Prática de Infantaria de Mafra (EPI), integrada no Movimento das Forças Armadas, que se deslocou para Lisboa, onde ocupou o Aeroporto.
No final da cerimónia foi declamado o poema de Sophia Melo Breyner Andersen “O Nome das Coisas”: Esta é a Madrugada que eu Esperava/ O dia Inicial Inteiro e limpo/ Onde Emergimos da Noite e do Silêncio/ E Livres Habitamos a Substância do Tempo.