“Regressamos uma vez mais a este local de memória, onde repousam os restos mortais de 32 presos políticos, que entre as centenas que o fascismo salazarista enviou para o ´Campo da Morte Lenta´ no Tarrafal, não resistiram às condições prisionais terríveis e lá terminaram os últimos dias de suas vidas. Este foi um dos maiores crimes do fascismo”, afirmou hoje, dia 25 de Fevereiro, Cláudia Martins, do Conselho Nacional, na homenagem anual organizada pela URAP junto Mausoléu dos Tarrafalistas, no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa. [ver intervenção]
“A brutal expressão da violência repressiva da ditadura, nesta época, foi a abertura do Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, a milhares de quilómetros de Portugal, lembrou a oradora, acrescentando que foram “crimes silenciados pela opressão, mas sempre denunciados pelos democratas, e que só com a Revolução de Abril foi possível transladar (os seus corpos) e que aqui estão neste monumento que se ergue em sua homenagem”.
Numa cerimónia apresentada por Edgar Costa e com a presença de antifascistas de vários núcleos, foi colocada uma coroa de flores no monumento inaugurado há 45 anos.
Edgar Costa lembrou o que foi o Campo de Concentração do Tarrafal e apresentou Cláudia Martins e o Coro Lopes Graça. Relatou o trabalho que a URAP está a realizar, destacando as sessões em escolas de todo o país e as comemorações dos 50 anos do Congresso de Aveiro, no próximo dia 1 de Abril, sob o lema “A caminho do 25 de Abril”.
Cláudia Martins salientou ainda que “o "Campo do Tarrafal", inaugurado em Outubro de 1936, foi inspirado nos campos de concentração nazis, que Hitler nessa altura começava a montar na Alemanha e depois estendeu, como campos de extermínio, por todos os países ocupados pelo exército nazi”, para dizer que “no Tarrafal não havia câmaras de gás, como nos campos de concentração nazis, mas os presos eram submetidos a um regime de morte lenta, e por isso ficou conhecido como o ´Campo da Morte Lenta´”.
Depois de fazer uma resenha histórica do campo, Cláudia Martins apelou, em nome da URAP, para que “no próximo ano, o ano das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, esta evocação aos tarrafalistas seja também ela um dos momentos marcantes das comemorações populares da nossa Revolução de Abril. Por isso, desde já aqui vos queremos propor que essa próxima evocação seja iniciada por um desfile popular numa praça da cidade, aqui próxima, com os activistas da URAP e com muitas outras e outros democratas, empunhando cravos e as nossas bandeiras”.
“Hino de Caxias”, “Companheiros, unidos”, “Canta Camarada, canta”, “Firmeza”, “Jornada e Acordai” foram ouvidos no Alto de S. João, entoados pelo Coro Lopes Graça, dirigido por Alexandre Branco, que chamou os presentes a cantar em conjunto, numa simbiose só possível entre pessoas que defendem os ideais de Abril.
Depois de Edgar Costa encerrar a sessão, os presentes enunciaram palavras de ordem como “Paz sim, guerra não”, Tarrafal nunca mais” e “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”.
A cerimónia - que contou com a solidariedade e apoio da Voz do Operário e da União de Sindicatos de Lisboa - terminou com Grândola Vila Morena.