O Núcleo da URAP do Montijo organizou uma sessão pública sob o lema “Quanto Custou a Liberdade”, dia 25 de Março, nas instalações da Assembleia Municipal, para a qual convidou os resistentes antifascistas e ex-presos políticos Domingos Abrantes e Conceição Matos.
Domingos Abrantes começou por referir o contexto em que se realizou a Revolução de Abril, num país pobre e atrasado, fustigado por 13 anos de guerra colonial rejeitada por grande parte da população e da juventude e gradualmente pelos militares que iam tomando consciência de que não haveria solução militar. Um país economicamente dominado por um grupo de grandes empresas, que tinham na ditadura fascista a garantia da continuidade da exploração dos trabalhadores e do povo.
A este propósito, referiu que o fascismo foi sempre um instrumento do grande capital para perpetuar o seu domínio explorador, e que voltou a estar na actualidade em perigoso crescimento, dando exemplos de países onde a extrema-direita governa e noutros em que já ocupa posições muito relevantes nos respectivos órgãos de poder. Alertou igualmente para a necessidade de os democratas e antifascistas se mobilizarem para travar a sua progressão e defenderem as liberdades e a democracia.
O orador, desenvolveu a comparação entre a Revolução de 1910, que instaurou a 1ª República, e a Revolução de 25 de Abril de 1974, salientando o facto de na primeira o povo em armas ter entregado o poder aos “cartolas”, que governaram a favor da burguesia e não do povo, enquanto em 25 de Abril foi o povo que saiu à rua e transformou um golpe de estado, que nada mudaria no essencial, numa Revolução.
Esse povo, disse, começou desde logo a construir um país novo, a defender e viabilizar as empresas abandonadas pelos capitalistas, a impor no dia-a-dia novas leis, direitos e garantias que vieram a ser consagradas na Constituição da República, em 1976, e não o contrário, num processo inédito e já em plena contra-revolução.
Conceição Matos relatou, por seu lado, os acontecimentos relacionados com a sua primeira prisão em 21 de Abril de 1965, no Montijo, na residência clandestina onde vivia com o seu companheiro Domingos Abrantes, que foi igualmente preso uns dias depois, quando regressava a casa.
Narrou as bárbaras torturas e as humilhações a que foi sujeita pela PIDE, e outros episódios passados com outras mulheres que conheceu ao longo dos anos, algumas das quais com quem esteve presa.
Descreveu a responsabilidade que cabia às militantes comunistas na clandestinidade, que não se resumia à mera gestão das tarefas domésticas das casas clandestinas, mas fundamentalmente a proteger a sua preservação, nos cuidados das relações com senhorios e vizinhos, e nas muitas horas de dactilografia de documentos do Partido.
Na sessão do núcleo da URAP do Montijo, dirigida por João Veiga, participaram 40 pessoas. Interveio inicialmente Carlos Mateus, do Conselho Directivo da URAP, que saudou todos os presentes e manifestou o seu regozijo pela realização da iniciativa, que assinala o relançamento do núcleo do Montijo, tal como vem acontecendo um pouco por todo o país com a retoma de actividade de vários núcleos e a criação de novos, o que representa um notório crescendo de vitalidade e de intervenção da URAP na sua intervenção pública e cívica.