Há precisamente 85 anos, o governo de Salazar criou a Colónia Penal do Tarrafal, um campo de morte, o "campo da morte lenta", um campo de concentração criado à imagem dos campos de concentração nazi, para onde foram enviados seis meses depois os primeiros 152 presos.
Revolucionários participantes da insurreição do 18 de Janeiro de 1934, na Marinha Grande, e da Revolta dos Marinheiros de 1936, foram os primeiros antifascistas a pisar o solo da Ilha de Santiago, em Cabo Verde, onde durante 18 anos, até 1954, estiveram presos 340 democratas.
O Artigo 2 do Decreto-Lei n.º 26. 539, de 23 de Abril de 1936, mencionava que “a colónia penal (…) destinar-se-á a presos por crimes políticos que devam cumprir a pena de desterro ou que, tendo estado internados em outro estabelecimento prisional, se mostrem refractários à disciplina deste estabelecimento ou elementos perniciosos para os outros reclusos".
Ao abrigo disso, neste campo que, no dizer do director foi feito para matar - "Quem vem para o Tarrafal vem para morrer"-, ou, segundo o médico: "não estou aqui para curar doentes, mas para passar certidões de óbito", morreram 32 antifascistas portugueses, cujos restos mortais, depois de trasladados em 1978, perante 200 mil pessoas, se encontram num mausoléu no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.
Os sobreviventes regressaram com a saúde gravemente abalada dadas as condições climatéricas da ilha e a dureza do regime prisional.
O campo seria reactivado em 1961, quando começou a Guerra Colonial, como “Campo de Trabalho do Chão Bom”, para receber prisioneiros oriundos das colónias portuguesas, sendo encerrado apenas em 1974.
A URAP, como organização dos que lutaram pelo derrubamento da ditadura portuguesa e dos que hoje lutam pela liberdade e a democracia, evoca todos os anos, em romagem, os mortos do Tarrafal, a fim de os homenagear e preservar a memória dos crimes cometidos durante os 48 anos de fascismo em Portugal.