por Manuel Pires da Rocha, músico
Nasce uma pessoa para o mundo e logo um nome lhe dão. Às vezes o nome pega, e por ele se responderá vida fora, nos bons e nos maus chamamentos. Outras vezes, essa vida mesma que a uns dá onomástico sossego, a outros há-de assinalar feições particulares ou salientes acções que virão a ser alcunha, primeiro, e logo a seguir nome próprio no que, de vida, restar. E quem diz pessoas, suas obras poderá dizer.
Foi o que aconteceu ao poema Abandono, assim baptizado por David Mourão-Ferreira, que o escreveu e publicou em 1959, e que havia de ganhar diverso nome por razões que adiante se dirão. Abandono migrou, primeiro, da folha de papel para a partitura de Alain Oulman e, dali, para a voz de Amália Rodrigues, que registou este fado (e alguns mais) no palco do velho Teatro Taborda, ali à Costa do Castelo, ao lado do guitarrista José Nunes, do viola Castro Mota e do compositor e pianista Alain Oulman.