No âmbito da rubrica "Testemunhos", a URAP vai publicar em três fascículos (nos sábados 22 e 29 de Maio e 5 de Junho) a história da prisão de Luísa Vaz Oliveira, em Abril de 1970, estudante do 3º ano de Económicas no ISCEF, de Lisboa, e condenada a 21 meses de prisão pelo seu envolvimento no movimento estudantil antifascista. Luísa Vaz Oliveira, então com 22 anos, conta a tortura do sono que sofreu na sede da PIDE, na António Maria Cardoso, o isolamento em Caxias, os interrogatórios, a doença que padeceu na prisão, os fortes laços que estabeleceu com outras presas, o julgamento no Tribunal da Boa Hora. Um relato na primeira pessoa, para que a memória não se apague.
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O interrogatório iniciado a 10 de Abril foi o primeiro de uma série de interrogatórios, cada vez mais pressionantes, que foram acontecendo quase até fins de Maio. Creio que, pelo menos três vezes, estive dois dias e uma noite sem dormir em interrogatórios. Por duas vezes estive o período máximo sem dormir, o qual foi de três dias e duas noites seguidos. Às vezes, além das habituais agentes femininas (2 mais experientes e outra mais nova), que se revezavam de quatro em quatro horas, e do Chefe de Brigada, aparecia também o Inspector que dizia ter sido Capitão do Exército em Angola, tendo aí iniciado a sua colaboração com a PIDE.