O livro "Elas estiveram nas prisões do fascismo" foi apresentado, dia 12 de Fevereiro, no Auditório Municipal de Pinhal Novo, concelho de Palmela, no dia do 94º aniversário daquela Junta de Freguesia, numa sessão conduzida por Pedro Soares, membro do Conselho Nacional da URAP.
Na presença de cerca de 40 pessoas, intervieram o presidente da Junta de Freguesia de Pinhal Novo, Carlos Jorge Almeida, e a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Palmela, Maria João Caleira, que saudaram a URAP pela iniciativa e destacaram o seu papel na preservação da memória histórica dos tempos da ditadura fascista e na denúncia dos seus crimes.
Carlos Mateus, do Conselho Directivo da URAP, e Maria Alberto Branco, também da URAP e membro da Direcção Nacional do MDM, usaram igualmente da palavra.
Carlos Mateus falou do papel da URAP enquanto associação unitária que preserva a memória histórica dos crimes da ditadura fascista e que combate todas as tentativas de branqueamento do fascismo, que lembra e homenageia os muitos milhares de homens e mulheres que resistiram e lutaram heroicamente contra o fascismo, com consequências terríveis em tempos de medo, de privações de vária ordem, de prisões e de morte, destacando o papel das muitas mulheres que sofreram nas prisões e fora delas, para acompanharem os seus entes queridos presos e criarem com grandes dificuldades os seus filhos.
Referiu ainda o Projecto Alfredo Caldeira como a ferramenta que possibilitou à URAP identificar os cerca de 30.000 presos políticos que constam nos ficheiros da PIDE existentes na Torre do Tombo, e criar uma linha de trabalho de publicação de edições sobre o MJT, a cadeia de Peniche e agora um livro exclusivamente sobre as Mulheres presas, a que se seguirá um outro livro sobre a prisão de Angra do Heroísmo, a apresentar em Maio, e oportunamente um livro sobre a cadeia de Caxias.
O orador lembrou que a URAP tem realizado e continuará a realizar dezenas de sessões de apresentação dos seus livros por todo o país e que fará sessões nas escolas para levar aos mais novos o conhecimento da luta pela liberdade, para melhor a poderem valorizar e crescerem como cidadãos livres, conscientes e participativos.
Carlos Jorge Almeida e Maria João Caleira sublinharam, nas suas intervenções, que vivemos num tempo em que a extrema-direita está em crescimento, e referiram o importante papel da Mulher no combate ao fascismo e também na luta pela sua emancipação e direitos iguais na sociedade portuguesa, luta que prossegue na actualidade.
Mostraram todo o interesse para continuar a apoiar a URAP, tendo o presidente da Junta de Freguesia de Pinhal Novo manifestado disponibilidade para a celebração de um protocolo de colaboração com a URAP.
Célia Figueira, encenadora do grupo de teatro EnsaiArte, contou na primeira pessoa - através de uma foto do espectáculo "Tempo de Mágoa"- o terror vivido no tempo sombrio da ditadura. Afirmou estar este grupo de teatro "sempre ao lado de iniciativas que lembrem e façam conhecer os tempos da privação da liberdade, de forma a que, pela consciencialização, nunca mais nada semelhante aconteça, e que nos levantemos sempre contra a violência e o autoritarismo".
Maria Alberto Branco, na sua intervenção referiu que o livro lembra e presta homenagem às mulheres que foram presas pela ditadura fascista, e que contribuíram com palavras e atos de resistência e luta para que a liberdade e a democracia tivessem sido finalmente alcançadas em Abril de 1974. Sublinhou que não se trata de um livro histórico, mas um contributo para que o papel das mulheres na luta antifascista não seja esquecido, tal como as torturas, as humilhações, o sofrimento e a coragem com que resistiram física e psicologicamente às mãos da polícia, com um capítulo dedicado às mães que caminharam parte das suas vidas para as prisões. Referiu, exemplificando, que o livro fornece informação detalhada sobre a situação e o estatuto das mulheres durante a ditadura fascista, a sua discriminação e subalternização social e laboral, as organizações que criaram e as lutas que travaram. Na qualidade de dirigente do MDM, aludiu ao muito trabalho que as mulheres têm ainda pela frente na luta pela igualdade de direitos efectivos na sociedade e apelou à participação de todos e todas na manifestação de dia 12 de Março, em Lisboa, para comemoração do Dia Internacional da Mulher.