por Cristina Pratas Cruzeiro, Historiadora da Arte e Investigadora científica
As paredes preenchidas de mensagens políticas inscritas em frase e em imagem preencheram a paisagem urbana de Portugal de Abril e representam, ainda hoje, parte do imaginário colectivo que temos sobre a Revolução. De entre todos os elementos que preencheram as nossas paredes, o mural assumiu grande proeminência, tendo sido utilizado como manifestação pública da consciência política por partidos políticos, associações culturais, comissões de moradores, e, entre outros, por iniciativa cidadã.
E.M. de Melo e Castro referia em 1977 que «A escrita nas paredes é pois um facto altamente revelador da liberdade de um POVO e uma manifestação colectiva da força comunicativa da sua vontade.»(1). Essa vontade, essa liberdade, é desde 1976 um direito consagrado na Constituição da República Portuguesa (artigo 37º, CRP) onde está inscrito que «Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio (...)» sendo que «O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura».(2)


Silvestre Lacerda é licenciado em História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e possui o curso de especialização em Ciências Documentais, opção Arquivo, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O director da Direcção-Geral dos Livros, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB), desde 2015, é o responsável pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Em mil novecentos e quarenta e oito, ou seja em pleno período da ditadura fascista que assolou Portugal, a companhia do teatro Nacional Dona Maria II teve a coragem, e diga-se ousadia e risco, de trabalhar, ensaiar e estrear «A Casa de Bernarda Alba», de Federico Garcia Lorca. Esse texto/peça maior, enorme grito de liberdade, preâmbulo contra a opressão, castração do indivíduo, enclausuramento da vida, do sonho e do direito a pensar.
Os diferentes usos que os indivíduos e grupos fazem do passado são indiciadores da coexistência de memórias concorrentes, alvo de disputas e de conflitos, como de um campo político e cultural em constante reconstrução se tratasse. Nesse sentido, a consensualização da memória, mais do que um combate pelo futuro é antes uma espécie de pacificação sobre um tempo infrutífero e morto.
por Rui Namorado Rosa
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