Intervenção de Maria José Ribeiro, em nome da URAP, no acto de assinatura do Protocolo entre esta Instituição e o Exército português, com vista à implementação faseada do Projecto " Do Heroísmo à Firmeza" – Percurso na memória da casa da Pide, no Porto. ( 1934-1974).


1 de Setembro de 2015

 

Senhor Ministro da Defesa Nacional,
Senhor Presidente da Assembleia Municipal do Porto,
Senhor General Vice-Chefe do Estado Maior do Exército,
Senhora Coordenadora Nacional da URAP
Senhor Director da Direcção de História e Cultura Militar
Senhor Director do Museu Militar do Porto,

demais ilustres convidados,
Minhas senhoras
Meus senhores

 

Em nome da URAP transmito uma saudação amiga a todos os presentes e a todos os que, de formas várias, deram o seu inestimável contributo para que, após vários anos de insistência,sem desânimos, pudéssemos estar, hoje, aqui, a dar o primeiro passo para a concretização da preservação da memória da resistência antifascista, nesta cidade.


Até à Revolução de 25 de Abril de 1974, funcionou, aqui, neste edifício, a Polícia Política designada sucessivamente por PVDE, PIDE e Pide/DGS.


Nestas instalações, mais de 7600 cidadãos sofreram detenções arbitrárias , humilhações, torturas do sono e da estátua, agressões físicas e psicológicas. Dois presos foram assassinados – Joaquim Lemos de Oliveira, barbeiro, de Fafe , e Manuel da Silva Junior, operário de Viana do Castelo.


A partir da década de oitenta varias diligências foram encetadas, com vista à identificação e classificação deste edifício como de interesse público. Após várias intervenções públicas, repetidas petições e sensibilizações, foi colocada, em 2004, pelo Governo Civil do Porto, a placa que se encontra na fachada deste edifício como "Homenagem do Povo do Porto aos Democratas e Antifascistas que neste edifício foram humilhados e torturados ".


Mas a chama da evocação deste lugar continuou a ser mantida por alguns movimentos , integrando individualidades de diferentes quadrantes, para além de ex-presos e seus familiares.


Particularmente, nos últimos 8 anos, a URAP assumiu uma obstinada defesa deste sítio, enquanto simbolo de resistência , de coragem, de denúncia, de pedagogia cívica, fundamentalmente dirigida às novas gerações que não viveram o tempo da ditadura.
Com a compreensão das várias Direcções do Museu Militar do Porto, aqui tiveram lugar visitas guiadas, se promoveram exposições, debates e sessões cinematográficas.


Mas as recordações desta casa reclamavam um dispositivo que, sem colidir com o espólio museológico existente, introduzisse a componente da memória da resistência, através de uma sinalética nas salas, nos corredores, nas escadarias, nas celas. Foi, então, que compreendendo a importância do objectivo desta pertinaz posição da URAP, reflexo dos anseios da população do Porto que não esqueceu o que este edifício representou na vida de tanta gente, aqui maltratada e humilhada, e que os Militares de Abril devolveram à democracia nascente, no dia 26 de Abril de 1974, surgiu o Projecto que motiva a assinatura do Protocolo que , agora, vamos celebrar.


Generosamente, o Arquitecto e investigador, Mário Mesquita, docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, decidiu dar forma e conteúdo a este anseio, elaborando um Projecto , com suporte orçamental, que designou como "DO HEROISMO À FIRMEZA " – Percurso na memória da casa da Pide no Porto, com toda a carga simbólica que encerra e que foi reconhecido, por várias entidades, como de grande mérito técnico. Este projecto aponta para o estabelecimento de parcerias, tendo desde logo merecido a adesão da Direcção Geral de Arquivos ( Torre do Tombo ) aqui representada pelo seu Director Dr. Silvestre Lacerda.
A ambos, o nosso profundo reconhecimento, pois sem acesso à documentação histórica o percurso expositivo estaria, à partida, muito limitado.


Este processo chegou a estar aprovado, mas alterações estruturais verificadas na hierarquia militar foram retardando o indispensável Despacho.


Sem desistências, contactámos os Grupos Parlamentares com assento na Assembleia da República , sendo de registar a total compreensão e o prometido apoio que nalguns casos se materializou em projectos de Resolução como os apresentados pelos Grupos Parlamentares do PCP e do BE, de perguntas sobre o estado do processo formuladas pelos GP dos Verdes e do PS e a atenção dos restantes, conforme informação que nos prestaram.


Também a Camara Municipal do Porto, aprovou por unanimidade, em Maio de 2014, uma Moção , reclamando junto do Governo e nomeadamente do Senhor Ministro da Defesa Nacional a classificação deste edifício como memória da resistência e da luta antifascista.


A Petição subscrita por mais de 4.000 cidadãos, entregue à Assembleia da República e a todos os órgãos do poder, no passado mês de Abril, foi o contributo decisivo para o desbloqueio da situação.


Tendo baixado à Comissão de Defesa Nacional, esta soube interpretar o apelo dos subscritores e, através do seu Relator,( cujo empenho nos compete registar ) cujo Relatório foi aprovado na Comissão por unanimidade, levá-lo ao conhecimento dos decisores, esclarecendo--os e sensibilizando-os .


O Debate que, em 2 de Julho do ano em curso, esta Petição suscitou na AR, teve o apoio unânime de todas as bancadas, havendo também espaço para a apresentação dos projectos de Resolução, atrás citados, (posteriormente votados e aprovados por maioria,) cujo importante contributo é justo aqui relevar .


Foi durante esse Debate que, publicamente, foi anunciado , e pela URAP tomado conhecimento, com imensa alegria, o acordo/resposta que, na véspera, havia sido dado pelo Senhor Ministro da Defesa Nacional, ao apelo dos subscritores. Ficava assim garantido que. finalmente , iria ser dado provimento aos seus justos anseios de ( e passo a citar ) "ser reconsiderada a oportunidade de dotar a Cidade e o Norte de um memorial que levante do esquecimento milhares de vítimas do fascismo "
"A dignidade portuense e nacional, o respeito por tantos Mártires da Liberdade do Século XX , a imagem de uma democracia de verdade, exigem esse Tributo ! "


Foi a junção de todas essas vontades que criou as condições para hoje estarmos, aqui, na casa que foi da Pide, a celebrar em Liberdade este Protocolo que a todos dignifica.


Muito trabalho vai ser exigido para que o Projecto seja concretizado.


Para isso contamos com todos os que nos ajudaram a chegar até aqui.


Por nosso lado, prosseguiremos, como sempre, a nossa acção com vista à preservação da memória dos que partiram e à recolha do testemunho dos que continuam ainda entre nós, divulgando-os junto das "novas e novíssimas gerações" , para que, informadas, saibam compreender e defender este património de Liberdade, de Democracia, de exercício de cidadania, que lhes é legado e construir uma sociedade mais justa e de Paz, em que a dignidade da pessoa humana seja respeitada em todas as suas dimensões.
O Futuro é já aí.

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Intervenção de João Corregedor da Fonseca, no encerramento da Assembleia Geral da URAP, realizada a 28 de Março de 2015, em Lisboa

 

Amigos e amigas,

 

Vamos encerrar a assembleia geral que decorreu com grande vivacidade.
Julgo que podemos acreditar no futuro da urap, não obstante naturais dificuldades , uma vez que a nossa associação se apresenta com vigor, como demonstram os relatórios da direcção e dos núcleos que mantiveram, ao longo do ano, uma actividade assinalável e consoante os objectivos
que a todos nos movem.

 

A URAP, na minha opinião, não é apenas uma organização cívica, cultural, social e
política. É mais do que isso, é uma verdadeira instituição nacional, patriótica, que
urge preservar e reforçar, tendo em conta dois factores essenciais:

 

Primeiro, porque não se pode, nunca, esquecer o fascismo que se abateu
sobre o povo português, bem como não se pode olvidar a luta insana de milhares
de cidadãos contra o arbítrio, o obscurantismo, a prepotência, enfim, contra a
ditadura.

 

Segundo, porque 40 anos depois do derrube do regime fascista, a
democracia em Portugal corre sérios perigos com a agravante de se observar, amiúde e
a vários níveis, avançados tiques fasciszantes, como fica comprovado com a tentativa de
se erguer um museu evocativo do ditador Salazar, por decisão da direita
e do presidente da Câmara de Santa Comba Dão, em clara confrontação com a
Constituição da República.

 

A nossa Assembleia Geral realizou-se num momento em que existe um
intolerável e perigoso branqueamento do fascismo quando o que se impõe é a urgente
necessidade de se enveredar por uma verdadeira educação cívica dos jovens em que a componente da nossa história contemporânea ocupe um lugar de destaque. É criminoso optar-se pelo esquecimento de um período terrível, como se um país não tivesse sofrido, durante
meio século, as violências fascistas perpetradas por aquela ditadura que beneficiou do apoio
perverso de potências capitalistas internacionais.

 

Não se tem possibilitado aos estudantes, aos que já nasceram em democracia, o conhecimento
profundo das graves consequências criadas a Portugal desde o 28 de Maio
de 1926 até 25 de Abril de 1974.

 

Por isso, a URAP, apesar de condicionantes diversas, sem apoios oficiais, tem desempenhado um papel relevante no sentido de se impedir que desapareça da memória colectiva a verdadeira saga de milhares de resistentes submetidos, nas masmorras fascistas, a prisões arbitrárias, à tortura e, tantas vezes, sujeitos a assassinatos, apenas porque pugnavam pela implantação das liberdades cívicas, da democracia.

 

Mas a URAP também não desconhece que, na actualidade, tem de continuar
a exercer a sua acção vigilante na defesa da democracia, dos valores de Abril, da
Constituição, constantemente postos em causa pelo desrespeito do governo de direita, neoliberal, perante os inalienáveis direitos, liberdades e garantias constitucionais tão arduamente conquistados.

 

Não se pode regatear esforços na luta pelo cumprimento das normas constitucionais que garantem
a todos e, com maioria de razão aos mais desfavorecidos, vítimas da acção política de sucessivos governos, ao longo dos últimos 38 anos, governos submissos aos meios capitalistas nacionais e
internacionais.


Hoje, não estão assegurados os direitos ao trabalho, à saúde, ao ensino, à habitação, ao bem-estar social, a uma velhice tranquila. Pois bem, a URAP posiciona-se na primeira linha dos que não se cansam de exigir a mudança das políticas antidemocráticas adoptadas.

 

A ofensiva contra estes direitos está, desde há muito, em marcha de forma avassaladora numa lógica que também abrange outros países onde se assiste a idênticos comportamentos que facilitam a actuação de organizações e partidos de extrema direita e, mesmo, fascistas e de índole nazi, como acontece, na Grã-bretanha, em França, na Alemanha, na Ucrânia, além de outros.

 

A URAP tem dado provas que não se presta para fomentar manifestações ambíguas, demagógicas, populistas, como por vezes acontece. Não, a URAP tem um programa sério, coerente.
Tem como objectivo principal, claro e transparente, resistir contra o avanço da direita sem esquecera tarefa de, junto das populações, junto dos jovens, recordar sempre, e com verdade, a epopeia patriótica do povo trabalhador que sacrificadamente resistiu ao fascismo e o derrotou.

 

A URAP tem, por isso, razão em se manter. É uma instituição de paz.

 

E como a URAP tem razão vai prosseguir na sua acção, eivada de patriotismo, e relembrar os que,
por amor à pátria, à sua soberania e independência, nunca confundiram os seus interesses pessoais com os interesses da nação, numa luta que nos comove, nos emociona, e que a todos nos une.

 

E, amigos, neste momento ao recordar tais exemplos reproduzo, com respeito, uma frase lapidar,
que tem particular acuidade, proferida por outro grande combatente, o Dr. Álvaro Cunhal:
«Por amor ao nosso país aqui estamos. E essa a maior das razões. »

 

 

Lisboa, 28 de Março de 2015

 

João Corregedor da Fonseca

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