Intervenção de Marília Villaverde Cabral, Coordenadora do Conselho Directivo da URAP, na Homenagem aos Tarrafalistas
realizada 10 de Março de 2018 no Alto de São João


Caros Amigos,


Estamos de novo, aqui este ano, para homenagear os homens que se bateram, com grande coragem, pela Liberdade e por um Portugal melhor.


Com esta Homenagem, não estamos a cumprir uma data de calendário ou uma rotina anual. Estamos aqui, porque sentimos que é nosso dever. Estamos aqui, porque não queremos que se esqueça o horror fascista, as torturas e as mortes, como pretendem aqueles que tudo fazem para branquear o fascismo.


Estamos aqui, para demonstrar que o sacrifício dos homens que sofreram no Campo de Concentração do Tarrafal, não foi em vão. Estamos aqui, para afirmar que lutaremos com todas as nossas forças, para que o fascismo não volte mais à nossa terra. E também porque não esquecemos o apelo que nos fez o grande combatente Francisco Miguel, o último preso português a sair do campo de concentração do Tarrafal, que no livro de depoimentos "Fascismo Nunca Mais", nos diz: "Antifascista, Democrata, Homem Progressista, quando pensares nos direitos da pessoa humana, não esqueças o Tarrafal. Se queres defender a liberdade, construir e consolidar a verdadeira democracia, faz alguma coisa para que o fascismo não possa voltar mais à terra portuguesa."

 

Vivia-se o ano de 1936. Em Espanha, irrompia a Guerra Civil. Enquanto a aviação militar da Alemanha e de Itália se preparava para bombardear populações indefesas, como Guernica, em Portugal, Salazar enviava a Franco mantimentos, enquanto o povo português vivia a fome mais negra. Marinheiros dos navios Dão, Bartolomeu Dias e Afonso de Albuquerque lutavam por melhores condições de trabalho e, solidários com os republicanos de Espanha, recusavam-se a desembarcar em portos franquistas. Considerados perigosos revoltosos, foram presos e expulsos da Armada. Mas os marinheiros não ficaram parados e levantaram-se contra aquelas prisões e expulsões da Marinha de Guerra. A revolta foi sufocada de uma forma violentíssima: bombardearam os navios, prenderam os revoltosos e condenaram-nos a pesadas penas. Este movimento, dirigido pela ORA – Organização Revolucionária da Armada assustou Salazar que, praticamente, de imediato, mandou abrir um campo de concentração, inspirado nos campos de concentração nazis, na ilha de Santiago – campo de concentração do Tarrafal - também conhecido por campo da morte lenta e onde Salazar pretendia assassinar os resistentes mais combativos, longe das suas famílias, das suas terras e da opinião pública.


A maioria eram jovens, na força da vida, amavam o seu país e o seu povo, mas em vez da felicidade a que tinham direito, foram lançados para um campo de paludismo e de morte!


O campo era um rectângulo de uns duzentos por trezentos passos, circundado por uma vedação de arame farpado e de toros de madeira.

 

Os ventos traziam os cheiros imundos, empestando a atmosfera e espalhando o mosquedo.
Todos estes elementos fazem parte da nossa História. Mas esta parte da História de Portugal é ocultada e os nossos jovens não a vão ler nos compêndios escolares e, se não formos nós, antifascistas, não ficarão a saber que, em Portugal, houve sempre, através dos tempos, uma juventude que lutou, que sacrificou a sus liberdade e até a sua vida, por ideais de justiça, de liberdade e de Paz. Por isso, é tão importante a nossa vinda aqui. É um modesto contributo para lembrar os crimes que foram cometidos nesse terrível local, onde se ia para morrer. O campo de concentração do Tarrafal durou 18 anos. O seu encerramento deveu-se à denúncia e solidariedade nacional e internacional que os democratas levaram a cabo.


Mas não podemos esquecer que, anos mais tarde, o campo foi reaberto como prisão, para os patriotas das guerras coloniais.


Continuamos, por isso, a considerar de grande importância a construção de um Memorial Internacional, conforme foi proposto no Simpósio em Cabo Verde em 1 de Maio de 2009, onde a URAP esteve presente, com uma delegação de 40 antifascistas.


Queridos Amigos,


Vale a pena recordar as palavras de coragem e de esperança que estes nossos heróis nos deixaram:
"Cercaram-nos de arame farpado, de mar, de muitas muralhas de isolamento e todas elas derrubámos. As que construímos com a nossa firmeza, a nossa convicção, essas não as demoliram os carcereiros. E os vencedores fomos nós".


Ao terminarmos esta jornada, recordo as palavras do nosso querido companheiro Aurélio Santos, que tanta falta nos faz:

"a luta antifascista mantém-se como necessidade actual. Há quem diga que o fascismo já passou à História.
Só uma grave ou leviana incompreensão da História pode levar â convicção de que a derrota do nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial, pôs em definitivo o mundo ao abrigo de regimes autoritários e ditatoriais que restabeleçam os métodos e as políticas que o fascismo quis impor ao mundo na sua versão do século xx."


As suas palavras não poderiam ser mais verdadeiras. O Mundo está mergulhado em guerra. Fascistas, populistas, levantam cabeça e chegam a ser homenageados em Instâncias nacionais e internacionais.


Queridos Amigos,


A URAP tudo fará para continuar na luta contra o branqueamento do fascismo e realizar sessões, nomeadamente em escolas, para que as gerações futuras conheçam o que foi o fascismo e o que foi a resistência.


A luta pela Paz e pela Solidariedade aos Povos é urgente!


VIVA O 25 DE ABRIL


25 DE ABRIL SEMPRE! FASCISMO NUNCA MAIS!

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À família e aos amigos de

Alexandre Castanheira

 

Estimados familiares e amigos,

 

A URAP – União de Resistentes Antifascistas Portugueses acaba de tomar conhecimento do falecimento de um dos seus primeiros sócios, seu antigo dirigente e, durante alguns anos, Coordenador do seu Conselho Directivo, o estimado companheiro Alexandre Castanheira.

 

Tristes com a notícia e solidários com seus familiares e amigos a todos nos juntamos, neste dia e hora, no sentimento comum de dor e da perda, ao ver partir do nosso convívio, embora saibamos permanecer entre nós pela força do exemplo e na nossa eterna luta, esse persistente e leal combatente da resistência antifascista, lutador pela liberdade, cidadão exemplar e homem de Abril.

 

Alexandre Castanheira foi um lutador, um humanista, um homem de cultura, um firme resistente, animador dos meios associativos na sua terra e por onde passou ao longo da vida, foi um exemplo de coragem e dedicação às causas grandes do nosso tempo, pelo fim da tirania fascista e por um mundo melhor sem opressão e pelo fim da exploração do homem pelo homem.

 

À família e aos seus mais próximos a URAP aqui deixa a sua sentida homenagem.

 

Aproveitamos, para igualmente endereçar ao Núcleo da URAP do concelho de Almada e aos muitos amigos de Alexandre Castanheira, nomeadamente nos meios culturais e associativos do seu Município com ele conviveram a nossa imensa estima, reafirmando sempre que a melhor homenagem que podemos fazer aos que partem é continuar a luta pelas causas justas por que sempre se bateram.

 

Honra à sua memória!

 

P'lo Conselho Directivo

 

Ana Pato; Bento Jesus; Francisco Canelas; Encarnação Raminho; Feliciano David; Nuno Figueira; Jorge Cabral; José Manuel Vargas; José Pedro Soares; Luís Filipe Almeida; Marília Villaverde; Mário José Araújo; Olga Macedo; Rosa Macedo; César Roussado

 

16 de Janeiro de 2018

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Intervenção na Inauguração do Monumento de Homenagem
Aos Presos Políticos no Forte de Peniche

 

Marília Villaverde Cabral (Coordenadora do Conselho Directivo da URAP)

 

Caros Amigos,


Trago uma fraterna saudação do Conselho Directivo da URAP para todos vós aqui presentes.


Há já uns anos que, numa reunião no Forte, mais propriamente ali na capela, com o senhor presidente da Câmara, António José Correia, o Tó Zé, como é tratado por todo o povo de Peniche e não só, reunião realizada no âmbito do Protocolo Câmara de Peniche - URAP, projectámos este sonho: conhecer os nomes de todos os homens que, pelo seu amor à Liberdade e ao seu Povo, aqui foram encarcerados e perpetuar a sua dedicação à luta por um país melhor. Depois de uma profunda investigação na Torre do Tombo, foram encontrados cerca de 2.500 nomes, homens das mais diversas profissões, das mais diversas idades, das mais diversas zonas do país. Depois de encontrados os nomes, havia que enriquecer a fortaleza com uma escultura-memorial, uma escultura que lembrasse que ali se sofreu, que ali se lutou, que ali se resistiu. Não foi fácil, mas conseguiu-se.

O nosso sonho concretizou-se, senhor presidente. Muito obrigada por todo o seu empenhamento, por toda a interajuda e, por seu intermédio, um obrigada à Câmara Municipal de Peniche e à Assembleia Municipal, cujos eleitos presentes, aproveito para saudar.


Obrigada, também, José Aurélio! A sua obra é tão linda! O horror das masmorras, a luta, a alegria da Liberdade, as aventurosas fugas serão perpetuados através dos tempos!


Com a bela frase "Disseram NÃO, para que a água da vida corresse limpa".


Falta-nos ainda o mural, com todos os nomes, um a um... Mas vamos Conseguir. Porque é preciso não esquecer. Lutar contra o esquecimento é a forma que temos de honrar os nossos heróis, os que felizmente estão entre nós e os que partiram. Mas é uma forma também de lutar contra o fascismo que, em muitos países, levanta cabeça e, em muitos casos, organizações que colaboraram com Hitler e os seus esbirros, são acarinhadas e homenageadas nos seus países e até em Instâncias Internacionais.


As sessões que organizamos, as visitas guiadas que fazemos ao Forte, com escolas e associações, são também um contributo para a História do nosso País. Sem vós, queridos companheiros ex presos políticos, que daqui saúdo, a URAP não conseguiria responder a esta tarefa tão importante.


Muitos de vós, com longos anos de prisão, costumam contar aos jovens o dia a dia dos presos, as suas aventuras para enganar os guardas com uma graça e uma alegria que os deixa admirados.


Como é que vós, companheiros, homens que tanto sofreram, que viveram as humilhações, as torturas, conseguem transmitir esta imensa alegria de viver?!


Vem-nos à memória as palavras de Álvaro Cunhal: "A alegria de viver e de lutar vem-nos da profunda convicção de que é justa, empolgante e invencível a causa por que lutamos."


É essa a razão..


Amigos,


Hoje, quando estamos aqui, não podemos deixar de lembrar que a fase seguinte é o Museu da Resistência. O Museu onde os jovens, possam vir consultar documentação para os seus trabalhos, onde se possam realizar debates e conferências, onde se possa vir visitar e ficar com uma ideia clara do que foi o fascismo, através de depoimentos, de documentos históricos, um Museu de que o Povo de Peniche se possa orgulhar, um Museu digno do Portugal democrático, um Museu que enriqueça a nossa história.


Hoje é um dia digno de Portugal em Liberdade: Homenageamos aqueles que estando junto a este lindo mar, não o podiam ver. Apenas ouviam o vento. Apenas ouviam o mar", dizia David Mourão Ferreira.


Queridos Amigos,


A URAP, herdeira da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, vai continuar a luta que tem travado contra o branqueamento do fascismo. Nas suas possibilidades, aqui vos promete que vai continuar a esforçar-se para que a verdade histórica não seja deturpada e, assim honrar o legado que nos deixaram.

 

Peniche, 9 de Setembro de 2017

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Intervenção de Encerramento da Assembleia

Marília Villaverde Cabral

 

"Caros Amigos,


Estamos a encerrar a nossa Assembleia e penso que posso dizer, em nome de todos vós, que a Assembleia correspondeu aos objectivos previstos e que demos mais um passo no fortalecimento da URAP, no seu alargamento, na sua projecção.


A URAP é cada vez mais necessária. Para quem considerasse que já não valia a pena esta luta, que o fascismo já há muito está morto, veja-se a situação na Hungria, na Polónia e em vários outros países do Leste da Europa. Veja-se a força da direita e extrema-direita na Holanda e, em França, vamos ver o que acontece.

No nosso País, apesar de não terem grande expressão, grupos nazis, estão sempre com as "unhas afiadas", quando vêm oportunidades, como foi este caso da Universidade Nova e o Museu Salazar, de vez em quando, vem à baila.

Ainda há dias, a Federação Internacional de Resistentes – FIR, nos pediu para tomarmos posição junto da Embaixada da Letónia, para que o Governo do seu país impedisse a realização de uma manifestação de homenagem à polícia Waffen-SS e outros esquadrões da morte, que colaboraram com os nazis. Esta iniciativa fascista que já se tem realizado mais vezes, tem contado com a complacência e até o apoio do Estado da Letónia.


Estamos a viver uma época de grande incerteza, de grandes perigos para a Paz e de grandes retrocessos históricos, agora agravada com a eleição de Trump para a presidência dos Estados Unidos da América.

 

E, se esta eleição tornou a situação internacional ainda mais inquietante, não podemos deixar de alertar para as posições da União Europeia que, a pretexto dos chamados " perigos externos", reforçam a sua vertente militarista e intervencionista. E, infelizmente, vários responsáveis de vários países europeus, têm levado a cabo políticas, nomeadamente, em relação aos refugiados, muito semelhantes às políticas adoptadas pelos Estados Unidos da América.


Caros Amigos,


Na última Assembleia, congratulámo-nos com a derrota do PSD/CDS, derrota para a qual as grandiosas lutas do povo português foram fundamentais. Hoje, passado este tempo, temos consciência dos passos dados que não só repuseram aos trabalhadores vários direitos roubados pelo anterior Governo, como travaram políticas que visavam retirar tudo o que ainda restava da Revolução de Abril.

Mas a URAP não pode ficar indiferente aos graves problemas que o nosso País enfrenta: entre eles, o elevado índice de desemprego, a precariedade, os baixos salários, a manutenção do actual Código do Trabalho, a não eliminação da caducidade na contratação colectiva, a renovação das PPP na saúde. Mas se foi a luta que nos fez dar os passos positivos, também será a luta que nos levará a dar mais passos necessários. A URAP estará sempre ao lado dos que, persistentemente, travam a batalha para um Portugal melhor.


A URAP é uma organização que luta contra o branqueamento do fascismo, que se recusa a deixar cair no esquecimento quem lutou pela liberdade, quem resistiu às prisões, às torturas, quem perdeu anos das suas vidas no Campo de Concentração do Tarrafal, nos cárceres do Porto, de Angra do Heroísmo, de Peniche, de Caxias. Ao visitarmos Os Fortes de Angra do Heroísmo, tão esquecidos, que grande parte da população portuguesa, nem sequer sabe que foram prisões políticas de alta segurança, ao vermos a Poterna e o Calejão, locais tenebrosos para onde encerravam os presos para os castigos e para o isolamento, dizemos não ao esquecimento. Os nomes gravados nas paredes que escorrem água, apelam a que lutemos em sua memória. O seu sofrimento não foi em vão. Foi a sua luta que nos devolveu a liberdade, mesmo quando parecia que "o dia das surpresas" demoraria muito a chegar.


Quando lembramos o património de luta, quando vamos às escolas, não estamos só virados para o passado. Estamos a cumprir um dever de contar às jovens gerações, que jovens, praticamente como eles, lutaram pela liberdade, com muitos sacrifícios e que a liberdade não caiu do céu. Que Hoje, é necessário estarmos atentos a fenómenos de racismo, de xenofobia, atributos do fascismo. Que é necessário lutar pela Paz, cada vez mais ameaçada. Ao evocarmos a Guerra Civil de Espanha, damos a conhecer a heroicidade dos que se bateram pela jovem República e por um Governo democraticamente eleito pelo Povo. Damos a conhecer a solidariedade internacionalista dos jovens de todo o Mundo que formaram as Brigadas Internacionais e todo este passado, relativamente recente, é um exemplo e um estímulo para a luta do presente e do futuro.

 

Ao encerrarmos a Assembleia, fica o apelo para continuarmos o nosso trabalho, com entusiasmo e determinação, criando mais núcleos, a nível nacional, reactivando outros que já existiram, incentivando a sua actividade, porque há muito a fazer, com a convicção que a URAP é necessária. Que se não formos nós a contribuir para a História do nosso País, com verdade, outros o farão com mentiras ou omissões.


Vale a pena este nosso trabalho, esta nossa luta!


VIVA A URAP!"


Lisboa, 25 de Março de 2017

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